Lá no íntimo de cada um – ao menos na mente da esmagadora maioria – o sentimento que prevalece quando se faz um balanço sobre os eventos de 2016 é o de repulsa. Melhor seria esquecer o que passou, diriam alguns! Como tratar de mais um impeachment presidencial (o segundo em pouco mais de duas décadas) embalado por um festival de malfeitos da mandatária deposta, tanto no plano político como no econômico? E o que dizer da ferida aberta com a corrupção endêmica e institucionalizada que degrada homens públicos e fulmina a crença geral nas chances de um país socialmente justo, economicamente viável e politicamente honesto? Governadores, senadores, empresários, inúmeros caciques foram parar atrás das grades enquanto o ex-presidente Lula se convertia em pentacampeão no banco dos réus, num tsunami de processos que aumenta na mesma contundência de suas diatribes. O ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, retirado do posto direto para o camburão; o titular do Senado, Renan Calheiros, do alto de 12 inquéritos, varrido da linha sucessória presidencial e mesmo o Supremo Tribunal questionado em sua autoridade legislativa completam o quadro nebuloso desses tempos difíceis vividos em 2016. O entra e sai dos colarinhos brancos na cadeia seguiu constante. Como nunca antes na história, diria o petista autointitulado de “a alma mais honesta que existe”. Joalherias como H.Stern, portento que ganhou o mundo, exibem a verdadeira imagem de uma reputação sem nenhum brilho, praticando sonegação fiscal à luz do dia. No bolso dos brasileiros, a falta de dinheiro. No campo do trabalho, a falta de emprego. Doze milhões de profissionais sem ocupação. O drama da Zika que expôs cruamente consequências devastadoras sobre os bebês da nova geração. A tragédia do voo da Chapecoense que arrasou os sonhos de uma leva de torcedores e comoveu o mundo. O Brexit que estabeleceu uma revisão da União Europeia e o isolamento do Reino Unido. Um improvável Trump na Casa Branca, passando a comandar a nação mais poderosa da Terra. A resistência global aos fluxos migratórios de refugiados, o protecionismo em franca escalada. Sinais de tempos estranhos, da intolerância como marca, da decadência dos planos de integração dos povos e continentes. A falência de estados federativos como o Rio de Janeiro, triste fim com a degradação da saúde, da educação, dos serviços essenciais. O último suspiro de resistência econômica em países como a Venezuela. O massacre na Síria resultante dos crimes de guerra em Alepo. As traquinagens e práticas abusivas já reveladas parcialmente na “delação do fim do mundo”. Não deixam boas lembranças a ninguém. Valeram as Olimpíadas, excepcionalmente benfeitas. Valeu o legado de obras destinadas aos cariocas e a quem admira a Cidade Maravilhosa. Valeu o futebol revigorado da seleção comandada por Tite. Valeram os resultados extraordinários da Operação Lava Jato. A atuação destemida do juiz Sérgio Moro. Valeu a solidariedade vencendo fronteiras para responder ao terrorismo, insinuando a face mais humana de um planeta que em 2016 mergulhou em muitos dramas.

Valeram e ainda valem, mais do que nunca, as expectativas e perspectivas de que as coisas se ajeitem. Que o Congresso brasileiro tome prumo e vote as reformas necessárias. Que a algazarra fiscal e o desvario inflacionário tenham fim. Que as contas públicas entrem ordem. Que os brasileiros percebam, de uma vez por todas, a importância de no momento se unir para juntos encontrarmos saídas contra a crise. As apostas para 2017 são muitas. Já a retrospectiva de 2016 não deixará saudade. Ela só pode ser contada com humor – como faz ISTOÉ nesta edição -, para abrandar os ânimos dizimados.


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