1992: Paulo César Farias é o bandido e os deputados do PT são os justiceiros. Na CPI do esquema PC, o ex-tesoureiro da campanha de Fernando Collor à Presidência, em 1989 diz uma verdade cristalina diante dos parlamentares: que todos ali eram hipócritas e financiavam suas campanhas com caixa 2.

2005: com papéis invertidos, os petistas sentam no banco dos réus. Delúbio Soares, tesoureiro da campanha de Lula à Presidência, tenta explicar que o mensalão não passava de um esquema de caixa 2 na política, com os tais “recursos não contabilizados”. E Roberto Jefferson, num discurso histórico, condena a hipocrisia do PT, que fez da ética uma escada para chegar ao poder e depois a empurrou.

2012: vem aí a CPI do esquema Cachoeira-Delta. Tanto o contraventor Carlos Cachoeira quanto o empreiteiro Fernando Cavendish terão a oportunidade de apontar o dedo para todos aqueles que ajudaram nos últimos anos, irrigando suas campanhas políticas com dinheiro não declarado. Provavelmente, não o farão diante do risco de que saiam presos e algemados da CPI.

O fato, porém, é que, em todos os megaescândalos nacionais, a raiz é sempre a mesma: financiamento irregular de campanhas eleitorais. E o Brasil, em vez de buscar soluções, sempre prefere o caminho da hipocrisia. Discute-se a faxina ética, bodes expiatórios são atirados à fogueira e a vida segue seu curso normal até que venha a próxima CPI.

Hoje, o Brasil tem uma chance rara de acompanhar dois escândalos paralelos: o do mensalão, que será julgado, e o de Cachoeira, que será dissecado na CPI. Por que não aproveitar a oportunidade para rever de vez o modelo de financiamento de campanhas no Brasil? Financiamento público? Reforma política? Voto distrital? Voto em lista?

Em algum momento, a discussão terá que ser feita. Caso contrário, daqui a alguns anos, estaremos assistindo à CPI do próximo Cachoeira.