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DISPUTA
Para brigar com BB e Caixa, bancos
privados entram na guerra dos juros

Apressão da presidenta Dilma Rousseff começou a dar resultados. Na quarta-feira 18, os dois maiores bancos privados do País, Itaú e Bradesco, anunciaram cortes de juros em suas operações de crédito, acompanhando as medidas anunciadas pelo HSBC e pelo Santander dias antes. Os bancos privados não resistiram à concorrência do Banco do Brasil e da Caixa Econômica. Em uma semana, os empréstimos diários do BB subiram 45%. Na Caixa, a alta foi de 17% para pessoas físicas e de 9% para empresas. Além disso, milhares de novos clientes buscaram informações sobre os juros mais baixos. Itaú e Bradesco, portanto, se viram obrigados a reduzir suas taxas para não perder mercado. O movimento, porém, não é suficiente. Mesmo levando em conta os impostos e os custos elevados, os bancos ainda aplicam um spread de 30% em seus financiamentos. A inadimplência tem se mantido estável, com leves aumentos, o que não justifica a elevada taxa de risco nem a enorme taxa de intermediação cobrada. Isso sem falar nas infindáveis tarifas bancárias. “Os juros vão cair mais”, diz uma fonte graduada do ministério da Fazenda. “Esse foi o primeiro passo, mas há mais gordura para cortar.”

Nas próximas três semanas, o governo vai acompanhar a efetiva redução dos juros nas instituições privadas e BB e Caixa continuarão trabalhando para fazer valer a vontade de Dilma Rousseff. Na quinta-feira 19, um dia depois de o Banco Central reduzir a Selic em 0,75 ponto percentual para 9% ao ano, o BB divulgou novas reduções em suas taxas mínimas. Os juros cobrados nas operações de crédito consignado, por exemplo, foram reduzidos de 0,85% para 0,79% ao mês. Com o anúncio, o BB passou novamente à frente dos bancos privados. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz que os bancos têm condições de reduzir seus juros, pois captam recursos remunerados pela Selic e emprestam a taxas muito superiores. Para Mantega, até se justificaria a reclamação contra os impostos sobre as operações financeiras se os bancos brasileiros não estivessem entre os mais lucrativos do mundo. Portanto, há margem de sobra para reduzir os juros cobrados da população.

Os cortes nos juros do setor privado ainda não convenceram os analistas. Parecem mais uma satisfação ao governo e à sociedade do que a redução efetiva das taxas. Na prática, os bancos, ao oferecerem taxas mais baixas, impõem condições e não atendem todos os clientes. “Os bancos nunca perdem dinheiro”, diz o economista Pedro Galdi, da Corretora SLW. “Eles vão reduzir a receita num produto, mas ganhar em outro.” No Itaú Unibanco, por exemplo, só tem direito a dez dias sem juros no cheque especial quem receber o salário pela instituição. A nova taxa mínima de 0,99% para financiamentos de veículos só será válida para os correntistas com mais de um ano, em operações com 50% de entrada e parcelamento em até 24 meses. O Bradesco informou que ampliou a oferta de crédito em R$ 14 bilhões e reduziu os juros para financiamento de veículo, CDC, crédito consignado e crédito para aquisição de bens. Não pedirá contrapartida.

O Santander deixou claro que, para ter redução do cheque especial de 9,9% para 4% ao mês, o cliente precisa adquirir um cartão de crédito internacional e não pode usar mais de 25% do limite. Acima disso, os juros passam a ser de 6%. “Já tínhamos reduzido o juro para a pessoa jurídica”, afirma Pedro Coutinho, vice-presidente comercial do banco. “Agora, anunciamos juros mais baixos para pessoas que recebem pelo Santander.” O vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac) Miguel de Oliveira diz que, para não perder mercado, Bradesco e Itaú alteraram linhas de crédito em que a competição é mais acirrada, mas lembra que as taxas mais atraentes dependem do perfil do cliente. A estratégia do governo está dando certo, mas falta muito para levar os juros brasileiros aos padrões internacionais. Enquanto no Brasil os spreads passam de 30%, o padrão no Exterior não chega a 5%. Há um longo caminho a percorrer. 

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