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O cerco está se fechando. O Instituto do Coração, Incor, e sua mantenedora, a Fundação Zerbini, estão sendo investigados pelo Ministério Público de São Paulo, a Polícia Civil, o Ministério Público Federal em Brasília e o Tribunal de Contas da União. Tudo ao mesmo tempo, para entender como foi que a instituição recebeu nos últimos anos R$ 534 milhões de órgãos públicos federais, mas hoje está com uma dívida de R$ 250 milhões. Semanas atrás, a atual direção da fundação enviou ao MP paulista nove denúncias contra ex-diretores, acusados de contratos fraudulentos, operações para dar prejuízo ao Incor e envolvimento com empresas off-shore, fundadas em paraísos fiscais. A investigação também aponta para a lavagem internacional de dinheiro. O principal investigado é Mario Gorla, presidente da fundação entre 2002 e 2005.

Em São Paulo, o MP instaurou inquérito para investigar especificamente R$ 30 milhões em contratos com suspeitas de fraudes. Segundo uma auditoria do Incor encaminhada ao MP, à qual ISTOÉ teve acesso com exclusividade, Gorla contratou a preços “extremamente” mais caros que os de mercado uma consultoria à Total Trading, com a missão de liberar equipamentos médicos na alfândega brasileira. Essa empresa, fundada semanas antes de ganhar o contrato, pertence a duas off-shore, Sun Overseas e Republic Enterprises, ambas do paraíso fiscal das Ilhas Virgens. Enquanto os despachantes alfandegários cobravam no máximo R$ 1 mil em cada processo de liberação de mercadoria, a Total cobrou do Incor R$ 60 mil mensais, mais 6% de remuneração sobre o valor do equipamento importado e mais 15% sobre a economia gerada nos processos. Curiosamente, a Total não fez o serviço, mas subcontratou outra empresa, a Barci, que cobrou outras faturas. Juntas, as duas ganharam, entre março de 2003 e maio de 2006, R$ 6,6 milhões da Zerbini. O mais intrigante é que Gorla assinou um contrato de consultoria com a Barci, para ficar com parte do dinheiro.

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As investigações do MP também apontam que Gorla teria se utilizado de outras off-shore em paraísos fiscais para remeter dinheiro para o Exterior. As autoridades têm extratos que mostram que ele controla contas no Uruguai, Suíça e Itália. Em outra investigação paralela, o Ministério da Fazenda rastreou toda a cadeia societária das empresas de Gorla. O nome dele constou como sócio da Noreh Investimentos e Consultoria, que tinha como outro sócio uma empresa estrangeira, a Lewinston Trading, do paraíso fiscal das Bahamas. Curiosamente, Gorla foi sócio da Noreh só por um dia, 25 de abril de 2000. Já a procuradora legal da Lewinston é sua filha, Maria Grazia Gorla Justa. Ela também é procuradora das empresas Somacis do Brasil Circuitos, com filiais na Itália e no Uruguai, além da Moskad Corp., do Uruguai. “A Fundação Zerbini não tem nada a ver com essas empresas”, diz Grazia Gorla. “Eu e meu pai estamos supertranqüilos.”