Começa esta semana (28/01) uma das mais interessantes exposições imersivas do Brasil: “Michelangelo: o Mestre da Capela Sistina”. A mostra está no MIS Experience (SP) e ocupa 14 salas, que são um verdadeiro mergulho em algumas das mais importantes artes da humanidade.

A reprodução gigante do teto da Capela Sistina, com estrutura criada exclusivamente para a exposição, proporcionará ao público uma experiência inédita de imersão, unindo alta tecnologia de animação e sonorização. Estudos, afrescos e réplicas de esculturas do pintor renascentista italiano, assim como imagens do ateliê de Michelangelo, estão reproduzidos em larga escala no local. A experiência imersiva tem curadoria do professor e historiador de arte, Luiz Cesar Marques Filho.

Recomendo a visita à exposição imersiva, que é uma grande oportunidade para os brasileiros conhecerem a arte de Michelangelo. Estudei profundamente a arte italiana, que é a base de todos os movimentos artísticos da humanidade, e até hoje continuo muito impressionada com as criações dessa época renascentista. Para que você fique mais bem informado do que qualquer outro visitante da mostra, selecionei 20 curiosidades sobre a Capela Sistina:

1 – A Capela Sistina é um dos maiores tesouros da humanidade e um coração pulsante da fé e da cultura universal. A capela tem o seu nome em homenagem ao Papa Sisto IV, que restaurou a antiga Capela Magna, entre 1477 e 1480. Ele também construiu a Ponte Sisto, que liga Trastevere ao bairro antigo de Roma. Os afrescos da Capela Sistina foram produzidos por Michelangelo (1475-1560), um dos maiores mestres do Renascimento Italiano.

2 – Ela foi inspirada no Templo de Salomão do Antigo Testamento, e sua decoração em afrescos, pintada pelos maiores artistas da Renascença. Baccio Pontelli foi o autor do projeto arquitetônico.

3 – A função mais importante da Capela Sistina começou em 1870, quando passou a ser utilizada como sede do Conclave, o encontro de cardeais que elege o Bispo de Roma, também conhecido como Papa. Mais de 50 Papas foram escolhidos a partir deste local.

4 – Atualmente, a Capela Sistina serve como sede das mais importantes nomeações da Igreja Católica. Missas e cerimônias privadas são realizadas regularmente com o papa, cardeais, guarda suíça e outros membros do clero presentes. No entanto, quando não está em uso para eventos especiais, a Capela Sistina é aberta ao público como parte dos Museus do Vaticano, sendo visitada por milhões de turistas a cada ano.

5 – A Capela Sistina tem forma retangular, medindo 40,93 metros de comprimento, 13,41 metros de largura e 20,70 metros de altura. Sua construção começou em 1473 e foi até 1481. As pinturas cobrem cerca de 1.100 metros quadrados de paredes e 460 metros quadrados de teto. “O Juízo Final”, pintado na parede do altar, tem cerca de 168 metros quadrados.

6 – Além de Michelangelo, vários artistas também trabalharam nas pinturas da capela (Rafael, Sandro Botticelli, Domenico Ghirlandaio, Pietro Perugino, Signorelli e Cosimo Rosselli) em cenas do Velho e do Novo Testamento que decoram principalmente as paredes laterais.

7 – Acreditem: Michelangelo relutou para aceitar o trabalho na Capela Sistina por não se considerar um grande pintor. Entendia que era melhor escultor. O convite para o trabalho foi feito por Giuliano di Medici, também conhecido como Papa Júlio II. Na época, ele estava trabalhando no mármore e na escultura do túmulo para o Papa, mas Júlio II cancelou a encomenda e disse que ele deveria pintar a Capela Sistina. Michelangelo ficou tão indignado, montou em seu cavalo e voltou para sua casa em Florença, jurando nunca mais iria trabalhar para o Papa. O Papa Júlio II era um grande fã da obra de Michelangelo e, independentemente do fato de o artista não ter experiência com a técnica de afrescos, insistia que pintasse a capela. Os guardas de Júlio II o arrastaram de volta a Roma à força e ele acabou concordando em pintar o teto, mas exigiu ter liberdade total para definir as pinturas.

8 – Michelangelo encontrou dificuldades em pintar “A Criação” por ser uma enorme área côncava que dificultava a visualização em perspectiva para a produção das imagens. Além disso, muitas figuras foram refeitas várias vezes porque o gesso do afresco seca rápido e é um grande desafio acertar a perspectiva de imagens que ficam em um teto altíssimo.

9 – O teto de afresco é uma composição em forma de arcos, que deve ser lida da esquerda para a direita e de cima para baixo. Os homens que serão julgados sobem para a esquerda, os justos ficam no alto e os condenados descem para a direita, em direção ao Inferno. Se você olhar atentamente para o teto, verá que em alguns painéis as figuras parecem maiores do que outras. Isso porque o inexperiente Michelangelo percebeu que precisava aumentar as figuras para que as pessoas pudessem vê-las melhor.

10 – A Capela Sistina é repleta de símbolos. Tem o primeiro registro de Deus representado em um corpo musculoso. Até aquela data, a maioria dos registros do Todo-Poderoso era por meio de uma luz divina, vinda do céu. O Deus de Michelangelo é uma reminiscência de Zeus, com um traseiro inclusive bem delineado, no painel que separa a Lua do Sol.

11 – A superfície da abóbada foi dividida em áreas para aproveitar o espaço. Nas áreas triangulares, existem figuras de profetas e sibilas. Nas partes retangulares, estão os episódios do Gênesis. Na parte do fundo estão Deus separando a Luz das Trevas; Deus criando o Sol e a Lua; Deus separando a terra das águas; A Criação de Adão; A Criação de Eva; O Pecado Original e a Expulsão do Paraíso; O Sacrifício de Noé; e O Dilúvio Universal.

12 – Enquanto o teto da Capela Sistina retrata temas religiosos, Michelangelo também presta homenagem à ciência e à anatomia em sua obra. Especialistas analisaram e descobriram séculos depois o simbolismo oculto das pinturas, provando o quão brilhante e à frente de seu tempo o artista realmente era. Há, por exemplo, uma forma semelhante a um cérebro e uma medula espinhal no painel central “A Criação de Adão”. Deus estaria dando vida e inteligência aos homens, enquanto a medula espinhal talvez represente a relação conflitante entre o artista e a Igreja Católica.

13 – A figura central é o “Cristo Juiz”, uma figura jovem com olhar duro e que se vira para a esquerda onde estão os torturadores. A representação é de um “Cristo Desconhecido”, no qual a bondade e a misericórdia desapareceram dando lugar a “Cristo Carrasco”.

14 – Michelangelo não fez a abóbada e o “O Juízo Final”ao mesmo tempo. Após produzir “A Criação”, deixou Roma e foi chamado somente trinta anos depois, aos 60 anos, para pintar o “Juízo Final”, a pedido do Papa Paulo III.

15 – O afresco do “O Juízo Final” demorou quatro anos para ser finalizado. Sua produção foi feita a partir de um andaime de tábuas de madeira construído pelo próprio Michelangelo que, inclusive, pintou todos os dias em um ambiente escuro, iluminado de forma precária apenas com a luz de velas.

16 – Quando pintava o “O Juízo Final”, Roma foi saqueada um exército de 10 mil homens que deixou a cidade literalmente em frangalhos. Michelangelo colocou um autorretrato na cena. Dê uma olhada na figura careca e barbada de São Bartolomeu, segurando uma faca em uma mão e uma pele esfolada na outra. O rosto da pele mostra os cabelos escuros cacheados e a barba de Michelangelo, indicando que ele se sentia esfolado e vivia um momento de pessimismo e de falta de fé. A pele representa também seu cansaço e sua má vontade naquele momento do trabalho.

17 – As figuras nuas da cena do último julgamento geraram discussões calorosas sobre imoralidade e obscenidade entre o Cardeal Gian Pietro Carafa e Michelangelo. Nobres da época e representantes da Igreja Católica chegaram a fazer uma campanha para tentar remover o afresco. Michelangelo explicou que os ressuscitados entrariam no céu nus, como Deus os criou, mas a igreja não gostou muito dessa representação.

18 – O Papa Paulo III ordenou que os genitais do afresco fossem cobertos pelo artista Daniele da Volterra, um dos discípulos de Michelangelo. Ele fez mais de quarenta pinturas para esconder o sexo ou pedaços perversos de santos. A moda pegou em Roma que teve muitas outras obras cobertas com folhinhas. Risos!

19 – O teto da capela levou quatorze anos para ser restaurado, sendo concluído em 1994. A remoção de 450 anos de sujeira custou uma fortuna e a rede de TV Nippon pagou pelo trabalho, exigindo em troca os direitos autorais das imagens e a receita com a venda de cartões, posters e livros. O contrato já expirou há muito tempo, mas a regra de não poder tirar foto foi mantida, primeiramente por conta do acordo e, depois, para proteger a pintura, uma vez que o local é visitado por milhões de turistas a cada ano.

20 – Para pintar os afrescos, Michelangelo teve que construir uma estrutura de andaimes de quase 20 metros para conseguir estar perto do teto. Por conta disso, fazia jornadas de muitas horas consecutivas de trabalho, saindo pouco para alimentar-se, ir ao banheiro ou até mesmo descansar. Grande parte da produção teve que ser feita a luzes de vela, pois na Itália há pouca luminosidade fora dos meses de calor.

A mostra vai até 30 de abril. É gratuita às terças-feiras e os ingressos podem ser adquiridos pelo site.  Se tiver uma boa história para compartilhar, aguardo sugestões pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou no Twitter.