RECORDES Cinco milhões de cópias vendidas: apesar de sair com três anos de atraso em relação aos EUA, o Brasil é o sétimo maior mercado da saga

Professores da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts passam o dia ensinando uma série de feitiços.

Os estudantes aprendem a produzir zumbidos no ouvido de pessoas próximas, para que não ouçam seus segredos; desvendam os segredos do Expelliarmus, técnica para desarmar outros bruxos em duelos; têm aulas sobre o método Petrificus Totalus, que transforma seus inimigos em pedra por algum tempo.

A mágica mais poderosa do aluno Harry Potter, porém, não nasce nas salas de aulas de Hogwarts, mas nas livrarias de todo o mundo.

500 milhões de livros vendidos em todo o mundo

O primeiro livro da série, “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, saiu no Brasil em abril de 2000. Imediatamente causou aqui o mesmo tsunami que havia provocado no resto do mundo, desde que o primeiro livro da saga foi lançado pela editora inglesa Bloomsbury em 1997.

Hoje, duas décadas depois, a Rocco celebra a data com o relançamento dos sete livros em edições de capa dura – feitas pelo ilustrador Brian Selznick, autor de “A Invenção de Hugo Cabret” – e um box especial.

A estratégia tem um olho nos colecionadores, que compram qualquer novidade que leve o nome do bruxinho, e outro nos novos leitores, que ainda não foram conquistados pelas aventuras da turma de Hogwarts. “Harry Potter ainda corresponde a uma boa parte do faturamento da editora”, afirma o diretor de marketing da Rocco, Bruno Zolotar, sem especificar números. “O mercado editorial brasileiro se divide em ‘A.H.P./D.H.P.’, ou seja, Antes de Harry Potter e Depois de Harry Potter.” Segundo Zolotar, o mercado infanto-juvenil no País era dominado por livros didáticos e clássicos exigidos pelas escolas.

“Hoje esse segmento cresceu tanto dentro das editoras que virou quase um negócio à parte.” Os números globais de Harry Potter são impressionantes sob qualquer aspecto.

Até 2018, a coleção já tinha vendido mais de 500 milhões de exemplares em todo o mundo – é a série literária mais bem sucedida da história. Foi traduzida para 80 idiomas e publicado em 200 países. O último livro, “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, é o best-seller que vendeu mais rápido de todos os tempos, atingindo a incrível marca de onze milhões de exemplares apenas 24 horas após o seu lançamento.

Apesar de ter sido lançado três anos depois dos EUA, o Brasil é o sétimo maior mercado da saga, com mais de cinco milhões de cópias vendidas. “A fantasia é universal”, explica a pesquisadora e escritora Marisa Lajolo. “A tradição inglesa é muito forte nesse estilo, de Peter Pan a Alice no País das Maravilhas. Bruxas e fadas fazem parte da cultura ocidental há séculos e transcendem fronteiras.”

Para a escritora, os livros fazem sucesso porque mantêm a estrutura conceitual de heróis versus vilões, mas em um contexto atenuado. “Assim como em outros clássicos, a obra de JK Rowling também traz a luta do bem contra o mal.

A diferença é que, enquanto os heróis e vilões do passado eram mais maniqueístas, com posições claras e óbvias, em Harry Potter não há um abismo tão grande, o que torna a história mais interessante.”

Segundo Marisa, a saga conquista leitores de todas as idades por uma razão muito simples: sua qualidade. “O bom livro não tem idade.

Os livros infantis de Monteiro Lobato são lidos até hoje por crianças e adultos, e o autor já está morto há 70 anos. JK Rowling está viva e é muito esperta com os desdobramentos de sua obra.”

A saga ganhou um novo capítulo a partir de terça-feira 5. Atores e celebridades emprestam seus rostos e vozes ao projeto “Harry Potter at Home” (em casa), onde aparecem lendo livros da série. O primeiro episódio, “A Pedra Filosofal”, tem a participação do próprio Daniel Radcliffe, que faz o papel de Harry no cinema. Na sequência, virão nomes como os atores Eddie Redmayne e Stephen Fry, o jogador David Beckham e a atriz Dakota Fanning, entre outros. Os vídeos estão disponíveis no site www.harrypotterathome.com. Os áudios também estarão disponíveis na plataforma de streaming Spotify.

Harry Potter nasceu com vocação para se tornar um negócio bilionário. A adaptação da série para o cinema é o seu lado mais midiático – e mais lucrativo, com mais de US$ 9 bilhões de dólares de faturamento –, mas seus icônicos personagens estão em toda parte. De tênis de corrida a jogos de tabuleiro, de brinquedos Lego a videogames, de linhas de joias a cosméticos, há uma versão “Harry Potter” para praticamente tudo que existe no mundo.

Ainda em 2020, se o coronavírus deixar, será inaugurada em Nova York uma loja temática de três andares. Apenas com os livros, a coleção já faturou US$ 7,7 bilhões. Esse valor sobe vertiginosamente quando acrescentamos o faturamento com o licenciamento da marca para o setor de brinquedos (US$ 7,3 bilhões) e a venda de DVDs (US$ 2 bilhões), mercado que era bastante relevante antes da chegada da Netflix.

JK Rowling, uma bruxa do bem

SUCESSO E FILANTROPIA Ex-bilionária: escritora doou boa parte da fortuna para entidades (Crédito:Divulgação)

Ela chegou a ser rejeitada por diversas editoras, mas hoje é uma das escritoras mais bem sucedidas do mundo. Em 2016, a fortuna de JK Rowling ultrapassou 1 bilhão de dólares. Desde então ela não faz mais parte da lista de bilionários, mas por uma boa razão: fez grandes doações a projetos que vão do apoio a pesquisas relacionadas à esclerose múltipla – doença que matou sua mãe – a grupos de defesa dos animais.

Em 2005 fundou a Lumos, instituição que luta pelos direitos das crianças. No sábado 2, anunciou a doação de R$ 7 milhões para as vítimas do coronavírus. Ao todo, JK Rowling já doou quase R$ 1 bilhão – o que a torna a bruxa mais bondosa do mundo real.

Sucesso de bilheteria

As adaptações para o cinema são um capítulo à parte. Os sete livros originais deram origem a oito filmes – o episódio final da série, “Relíquias da Morte”, foi dividido em duas partes –, mas geraram outros subprodutos cinematográficos que ganharam vida própria e também se tornaram sucessos de bilheteria.

É o caso de “Animais Fantásticos e Onde Habitam” e “Animais Fantásticos: Crimes de Grindelwald”, cuja terceira parte está prevista para ser filmada no Rio de Janeiro em 2021. A lista de adaptações para a dramaturgia inclui também a peça de teatro “A Criança Amaldiçoada”, encenada pela primeira vez em Londres, em 2016. Harry Potter também ocupa duas grandes áreas no parque temático da Universal, em Orlando, nos Estados Unidos, e o estúdio onde foram feitos os filmes é hoje um cartão postal de Londres.

Ainda não há previsão para a inauguração de uma Escola de Magia e Bruxaria como Hogwarts, mas nunca subestime o poder de Harry Potter. A fila de matrículas certamente daria a volta ao mundo.

De geração para geração, fãs de todas as idades