Alguns institutos de pesquisa apontam para a possibilidade de a eleição presidencial ser definida já no primeiro turno, com vitória do ex-presidente Lula. Com base em análise de levantamento da Genial Quaest de junho, o cientista político Jairo Nicolau calculou em 71% essa probabilidade. Desde a redemocratização, apenas as eleições de 1994 e 1998 foram decididas já no primeiro turno. Nos pleitos seguintes, sempre tivemos dois turnos. A eleição de agora, contudo, traz elementos inusitados. É a primeira vez que temos um ex-presidente concorrendo com um mandatário ainda no exercício do cargo. Lula, surfando na onda das commodities, deixou o governo com popularidade recorde. Jair Bolsonaro, por conta dos efeitos da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia, aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto. FHC, Lula e Dilma, quanto tentaram renovar seus mandatos, estavam na frente.

Mas, afinal, que fatores podem fazer com que esta eleição seja definida em primeiro turno? O principal fator é o voto útil. Com a eleição extremamente polarizada e sem que as demais alternativas se mostrem minimamente viáveis, o eleitor pode acabar optando por um dos candidatos que lideram as pesquisas. Outra possibilidade é que as candidaturas com algum potencial, como a de Ciro Gomes e a de Simone Tebet, não se confirmem. Ainda há a possibilidade de PDT e MDB, diante da estagnação de seus respectivos candidatos, decidirem não apresentar candidato próprio ao Palácio do Planalto, a fim de concentrarem seus recursos nas eleições para outros cargos, como o de deputado federal. O não comparecimento do eleitor às urnas também é um fator a ser considerado. Quanto maior o índice de ausência, maior o grau de imprevisibilidade do resultado.

É possível que PDT e MDB, diante da estagnação de seus respectivos candidatos, decidirem não apresentar nomes próprios ao pleito presidencial

A média de intenção de voto no ex-presidente Lula entre novembro do ano passado e junho deste ano aumentou de 41,68% para 44,48% este mês. Ou seja, os dados mostram o ex-presidente consolidado em patamar elevado e ainda com leve crescimento. Ao mesmo tempo, Jair Bolsonaro passou de 26,14% para 33,18%. A consolidação de votos no presidente é alta, tendo subido no mesmo período, mas sem reduzir sobremaneira a vantagem de Lula.

O que poderia mudar esse quadro em favor de Bolsonaro? Pelo menos três fatores. Algum erro cometido por Lula durante a campanha, uma melhora relevante na economia, possibilidade essa mais remota devido aos efeitos da guerra na Ucrânia, a recessão nos EUA e o crescimento fraco da China. Por fim, a implementação das medidas de impacto social em discussão no Congresso Nacional.