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O poder de influência do Dalai Lama, o primeiro nome do budismo tibetano, acaba de ser atingido por uma decisão do governo chinês. A partir de setembro passam a valer as regras criadas por autoridades de Pequim para um dos pontos mais importantes da religião: a reencarnação dos chamados budas vivos. A expressão surgiu na dinastia Yuan (1271-1368) e designa monges eminentes, que se distinguiram na prática dos ideais de buda. Quando um deles morre acredita-se que o lama irá reencarnar pois tem missões a cumprir.

Com as novas regras – um conjunto de 14 artigos –, só poderá ser declarado buda vivo (rinpoche, em tibetano) aquele que obtiver a autorização do governo. Os futuros candidatos devem ser submetidos à aprovação por um templo que esteja creditado pela Administração de Assuntos Religiosos. Há centenas de lamas no Tibete, região controlada pelos chineses. De acordo com as normas, se surgir um rinpoche que não tenha recebido o aval governamental, ele será considerado ilegal. O artigo dois diz ainda que não será tolerada a interferência de qualquer pessoa ou organização fora da China nesse processo. As medidas são consideradas um meio de restringir a influência de Tenzin Gyatso, o 14o Dalai Lama, que vive exilado na Índia desde 1959. O governo também está atento à sua sucessão. O líder budista está com 72 anos.

Não é a primeira vez que o lama sofre um golpe em seu prestígio religioso. Em 1989 morreu o décimo Panchen Lama, o segundo na hierarquia. Na ocasião, tanto o governo comunista quanto os budistas exilados começaram a procurar o sucessor. Em 14 de maio de 1995, o Dalai Lama indicou Gendhun Choekyi Nyima, seis anos, como o 11º Panchen Lama. Três dias depois, o garoto e seus pais foram levados por autoridades chinesas e não foram mais vistos publicamente. Em dezembro, o governo chinês anunciou ter encontrado a reencarnação do lama, o menino Gyaltsen Norbu. Foi apresentado na tevê como buda vivo. No ano passado, ele fez uma aparição internacional durante um fórum mundial de budismo no leste da China. O jovem Panchen Lama terá um papel importante na definição do 15o Dalai Lama.

A decisão do governo causou protesto entre os exilados. Khedroob Thondup, um sobrinho do líder budista, afirmou que os tibetanos jamais reconhecerão um Dalai Lama definido pelas autoridades chinesas. É algo que só o tempo dirá.

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Divindade perdoada
Foi por pouco. A pequena Sajani Shakya, dez anos, é uma das três mais reverenciadas kumaris do Nepal. Kumaris são meninas consideradas reencarnações de Kali, uma deusa hindu. São escolhidas bem pequenas, por volta dos dois anos, entre candidatas que apresentam os 32 atributos – como pele sem manchas – necessários para reconhecimento da divindade. Desde então, elas abençoam os devotos e participam de festivais religiosos até atingir a puberdade. Em geral, essas pequenas deusas vivem reclusas. Sajani sofre menos restrições do que as duas principais kumaris. Em julho aceitou convite para viajar aos Estados Unidos. O passeio aborreceu autoridades religiosas, que ameaçaram retirar seu caráter divino por ela ter rompido a tradição. Mas a volta de Sajani foi celebrada pela população e os líderes dos templos decidiram perdoá-la, dizendo que a menina iria participar de uma cerimônia de purificação.