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A Amazônia continua a surpreender o mundo. Novas espécies de animais e vegetais foram encontradas em uma porção de terra ainda pouco explorada pelos cientistas. A área, um imenso território localizado entre os rios Purus e Madeira, forma um complexo distinto de outros pontos amazônicos, com uma diversidade tão rica que atraiu a atenção do projeto Geoma, uma rede de pesquisas dos ecossistemas da região. Duas expedições foram organizadas pelo grupo e coordenadas pelo biólogo Mario Cohn-Haft, do Instituto de Pesquisas Amazônicas (Inpa). O resultado depois de 46 dias de viagens: ao menos quatro novos tipos de aves, dois macacos ainda não descritos pela ciência e uma generosa coleção de plantas, insetos e aracnídeos desconhecidos. 13 biólogos estudaram insetos, aves mamíferos, plantas e paisagens.

Por experiências anteriores feitas em outras partes do interflúvio (região entre rios) Purus-Madeira, Cohn-Haft, um ornitólogo ? especialista em aves ?, acreditava que iriam deparar com tipos ainda não classificados que tinha visto pelos arredores. Na ciência, para se catalogar uma espécie nova, é preciso coletar o exemplar e examinálo com cuidado. Cohn-Haft, mais 12 biólogos de diferentes especialidades e uma equipe de apoio decidiram ir atrás das aves e, assim montaram as expedições, que aconteceram entre abril e julho. ?Aves são organismos muito conhecidos e se em uma área você encontra um monte de pássaros novos, imagine quantos outros tipos de animais podem ser descobertos?, diz o ornitólogo. A ele se juntaram especialistas em mamíferos, insetos (com foco em borboletas e abelhas), peixes, aracnídeos, botânica e paisagem (para estudar a formação da mata e do solo).

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A primeira expedição foi uma verdadeira aventura. Veículos com tração nas quatro rodas foram alugados para que eles pudessem percorrer a porção sul do interflúvio ? mais próxima de Porto Velho (RO). Na fase das chuvas, a área fica intransponível. E no período da seca a água some. Por isso, os pesquisadores decidiram partir em abril, em tese um momento em que as estradinhas abertas por agricultores estão transitáveis e os igarapés, preservados. ?Fomos surpreendidos e tivemos de enfrentar muitos atoleiros. Toda hora tínhamos de usar um carro para desatolar o outro. O que seria cumprido em um dia, levou três?, lembra Cohn-Haft.

Mesmo com os contratempos, eles conseguiram cumprir a missão. Encontraram quatro novas aves. Duas delas ? um pássaro da família do bem-te-vi e um tipo de gralha ? são endêmicas. Ou seja, pertencem àquela área em específico. Tudo o que foi coletado no local ainda está em fase de estudos em laboratório. Por isso, irá demorar para que se saiba quantos bichos foram encontrados no total. A variedade é grande nessa região, que toma um pouco das características da vegetação do Centro-Oeste. Havia trechos em que o terreno se assemelhava ao cerrado do coração do Brasil. Os biólogos fizeram uma boa coleta de répteis e anfíbios. ?É incrível notar que a paisagem de lá é bem diferente da área para a qual viajamos na segunda expedição. A Amazônia não é constituída de um único ambiente?, explica.

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Na segunda expedição, em julho, a logística teve de mudar. O ponto escolhido foi o complexo da bacia do Rio Preto do Igapó-Açu. Ele fica entre o rio Madeira e a BR-319, porém em um trecho de acesso dificílimo. Como os campos de pesquisa se situam em região de nascente de rio, foi necessário utilizar um helicóptero, com deslocamento em duas áreas distintas. Lá, entre as descobertas, está um novo sagüi. Um macaco não descrito pela ciência foi avistado, mas, por não ter sido coletado, a história apenas recheia a aventura dos biólogos. Eles desejam voltar. No entanto, não há planos definidos para o retorno. ?A região ainda tem muita coisa para ser estudada. Acredito que estamos no meio de uma explosão de descobertas biológicas que se compara à onda de expedições do século XIX?, diz Cohn-Haft, um americano que há 20 anos vive em Manaus. A diferença é que agora é preciso correr. O interflúvio Purus-Madeira está na mira de projetos de hidrelétricas e gasodutos. ?Está claro que daqui a dez anos o cenário será outro. Temos de aproveitar o momento e obter dados em vez de ficar chutando o que existe lá ou lamentando o que perdemos?, completa.

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