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"Existe preocupação, mas o Brasil não vai ficar sem indústria"
Guido Mantega, ministro da Fazenda

Nas últimas semanas, a palavra desindustrialização dominou os debates econômicos. De um lado, os defensores da ideia de que a indústria vem perigosamente perdendo espaço no País. De outro, os que acreditam que o processo não existe. Afinal, o que corresponde à realidade? Uma série de estatísticas divulgadas na semana passada coloca luz nessa questão. Ao contrário do que pregam os adversários do modelo econômico que o Brasil vem seguindo, a indústria cresce e, no futuro próximo, deve ser ainda mais relevante. Na quinta-feira 12, a Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) anunciou que o faturamento do setor subiu 7,4% no primeiro bimestre ante igual período do ano passado. Detalhe interessante: este segmento é um dos mais representativos da indústria nacional. Pouco antes, o IBGE apontou que a produção industrial do País cresceu 1,3% em fevereiro sobre o mês anterior. Onde estaria, portanto, o processo de desindustrialização?

Em um artigo publicado na semana passada, José Serra, candidato a prefeito de São Paulo, citou diversos números que comprovariam a tese de que o País vive um cenário nefasto para a indústria nacional: “40,3% do preço de um produto industrial é constituído de tributos”, escreveu Serra, e completou que “os encargos sobre encargos sobre a folha de pagamentos de uma indústria brasileira são 11 pontos percentuais maiores do que a média de países como EUA, México, Argentina, Alemanha, França e Coreia do Sul”. Esses dados são verdadeiros. É mais do que sabido que os setores tradicionais da economia enfrentam encargos trabalhistas violentos, que o real valorizou-se excessivamente nos últimos anos, o que atrapalha os planos das empresas nacionais, e que as altas taxas de juros tornam a captação de recursos cara no País. Tudo isso está correto, mas também é verdadeiro que o governo vem se esforçando para combater esses malefícios. Ademais, fosse o cenário tão devastador e não haveria a avalanche de investimentos industriais previstos para os próximos anos. Apenas a indústria automobilística vai injetar US$ 22 bilhões no País até 2015 e o setor químico prevê US$ 15 bilhões em seis anos.

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"Já começamos a reduzir o custo do trabalho no Brasil"
Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Sócio da Tendências Consultoria, o economista Juan Jensen faz uma análise interessante sobre o novo cenário econômico brasileiro. Jensen diz que a indústria perdeu importância relativa em relação ao PIB, mas que o problema é conjuntural e não permanente. Ele lembra que, nos últimos 30 anos, o setor de serviços cresceu mais do que o industrial, o que não significa que a indústria diminuiu de tamanho, apenas que evoluiu menos que outros segmentos. Seria este um fator negativo, que justique os defensores da tese da desindustrialização? Não, diz Jensen, pois se trata exatamente do que fizeram as nações ricas em seu processo de enriquecimento. “É um movimento típico de países desenvolvidos”, diz Jensen. “A indústria brasileira não vai acabar.” Os países que passaram por esse processo acabaram por construir um setor industrial diversificado, de alta produtividade e atrativo para grandes grupos multinacionais. A perda relativa de participação da indústria em nenhum momento, os empobreceu. Pelo contrário.

Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, entrou no debate. “O Brasil não vai ficar sem indústria”, disse Mantega. “Existe preocupação, mas não há um processo de desindustrialização.” Seu colega de Esplanada, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, avalia que a abertura de novas fábricas no País mostra que o Brasil não está se desindustrializando. “Existem dificuldades, muitas delas oriundas da concorrência desleal e das taxas de câmbio e juros, que estão sendo corrigidas”, ponderou. Pimentel prevê que, até o fim do mandato da presidenta Dilma, a desoneração da folha de pagamento será estendida a todo o setor industrial do País. “Já começamos a reduzir o custo do trabalho no Brasil”, diz o ministro. Segundo homem na hierarquia do MDIC, o secretário-executivo Alessandro Teixeira tem acompanhado pessoalmente as reuniões dos 19 conselhos de competitividade criados pela presidenta Dilma Rousseff para monitorar o desempenho da indústria. Ele afirma que, se o governo ficasse parado por cinco anos, haveria, de fato, um processo de desmantelamento industrial. “Mas o governo não está de braços cruzados”, assegura Teixeira.

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