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Em reunião com 23 empresários brasileiros, na noite deste domingo (7), em Washington, a presidente Dilma Rousseff disse que pretende construir um "diálogo entre iguais" e uma relação mais ampla com os EUA. Em mais de uma hora de conversa, ela salientou a oportunidade aberta pela recuperação gradual do mercado americano e por seu elevado potencial no campo da inovação tecnológica. Mas alertou sobre a necessidade de o Brasil recuperar os níveis históricos de exportação de manufaturas aos EUA. A mensagem animou especialmente os empresários mais prejudicados pelo discurso antagonista aos EUA do governo Lula. "O tom político mudou", festejou um deles ao Estado. "A resistência do governo em se aliar aos EUA é ridícula", disse outro empresário.

Do lado dos empresários, Dilma ouviu queixas de pelo menos cinco temas. Em especial, um pedido para insistir com Barack Obama na necessidade de conclusão do acordo para eliminar a bitributação das empresas. O presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, criticou a na inexistência de acordo para evitar a bitributação entre os dois países.

Descontraída, ela lembrou que participa de fóruns de altos executivos dos dois países desde que era ministra de Lula. Um empresário observou, então, que o fórum "dá sorte". "Quando Lula esteve aqui, havia problema com o suco de laranja, que não tem mais, e também da carne, que está diminuindo", comentou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade.

Encontro com Obama

A presidenta Dilma Rousseff se reúne nesta segunda-feira (9), a partir das 11h45 (12h45 de Brasília), com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na Casa Branca, em Washington, capital norte-americana. Em discussão, pelo menos dez acordos de cooperação bilateral, nas áreas de ciência, tecnologia, energia e cultura, além de temas como a crise econômica internacional, a Conferência Rio+20 e questões de direitos humanos.

Obama e Dilma farão uma declaração à imprensa ao fim do encontro. Obama oferecerá um almoço para Dilma e, em seguida, ela se reunirá com os empresários do grupo Estados Unidos-Brasil, no Eisenhower Executive Office Building. No fim da tarde, a presidenta participa do seminário Brasil-Estados Unidos: Parceria para o Século 21, na Câmara de Comércio. Na terça (10), ela segue para Boston, onde fará duas palestras.

Concessão de vistos

Há 24 mecanismos bilaterais entre o Brasil e os Estados Unidos, alguns deles considerados prioritários, como o Diálogo de Parceria Global, o Diálogo Econômico e Financeiro e o Diálogo Estratégico sobre Energia. Um dos temas em discussão entre Dilma e Obama é a questão da concessão de vistos. Os Estados Unidos passaram a facilitar a concessão a partir deste ano e a expectativa é acabar com a obrigatoriedade do documento.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Tovar Nunes, reiterou que a decisão é definida pelo governo norte-americano, pois a questão migratória faz parte dos temas de política interna dos países. No ano passado, o Brasil foi o sexto país que mais enviou visitantes para os Estados Unidos – atrás do Canadá, México, Japão, Reino Unido e da Alemanha. Depois da Argentina, os Estados Unidos são os que mais enviam turistas ao Brasil.

A expectativa é que durante a visita de Dilma sejam definidas parcerias para o programa Ciência sem Fronteiras. Atualmente, dos cerca de 800 bolsistas do Ciência sem Fronteiras nos Estados Unidos, 31 estudam em oito universidades de destaque. Também deve ser firmado um acordo entre o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e a Smithsonian Institution para treinamento de profissionais nessa área. Dilma aproveitará a oportunidade para presentear Obama com uma obra de arte brasileira.

Paralelamente, temas da política internacional devem ser mencionados na reunião entre os dois presidentes. Assim como o Brasil, os Estados Unidos apoiam a missão do enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe, Kofi Annan, à Síria. Porém, o governo brasileiro insiste na defesa da busca pelo diálogo e da negociação pacífica na região.

Dilma vai reiterar o convite para que Obama participe da Conferência Rio+20, em junho. Porém, na ocasião Obama estará a cinco meses das eleições presidenciais, nas quais tentará a reeleição, enfrentando duras críticas dos adversários e o desafio da crise econômica internacional.

A crise econômica também é tema que deve predominar na Cúpula das Américas, em Cartagena das Índias, na Colômbia, nos próximos dias 14 e 15. A cúpula virou assunto polêmico, pois alguns presidentes sul-americanos, como Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia), ameaçaram boicotar a reunião devido à ausência de Cuba, por pressão norte-americana. A posição do Brasil é que esta deve ser a última cúpula sem Cuba.