Santa, Semana Santa! Não só pelo feriado, mas, sobretudo, pela oportunidade de parar, refletir e renovar os sentimentos. Dois mil e doze anos atrás, nesta mesma data, o julgamento mais relevante da história, realizado no Sinédrio, serviu para consagrar a maior injustiça de todos os tempos. É por isso que a narrativa da Paixão de Cristo é tão cativante. Todos os homens e mulheres que, por alguma razão, já se sentiram prejulgados e foram covardemente atacados por seus semelhantes sabem que nada dói tanto na alma quanto o peso de uma injustiça.

Neste mundo, cada um carrega a sua cruz e, a todos, ela chega mais cedo ou mais tarde. A bola da vez é o senador Demóstenes Torres (DEM/GO), que, ao comunicar o desligamento do seu partido, numa carta dirigida ao presidente da sigla, lamentou estar sendo vítima de um prejulgamento. Mas logo ele? Nos últimos anos, Demóstenes foi um dos maiores inimigos da liberdade no Brasil. Julgou, condenou e insuflou ataques a todos os seus adversários políticos, antes mesmo que, a eles, fosse dado qualquer direito de defesa. Fez isso até com aliados, como o ex-governador José Roberto Arruda, que, por sinal, perdeu o mandato e foi preso sem que até hoje, dois anos depois de sua “paixão”, tenha sido julgado. Com o mesmo ferro que feriu, Demóstenes está sendo ferido.

O que acontece no Brasil de hoje, lavado pela cachoeira goiana, é extremamente interessante. Jornalistas que pulavam na jugular de suas vítimas e realizavam julgamentos sumários também vêm tendo seus métodos de ação questionados. Os alvos da Operação Monte Carlo, por sua vez, apontam para uma suposta conspiração que teria como objetivo livrar a pele dos mensaleiros. E estes, que podem vir a ser julgados a qualquer momento pelo Supremo Tribunal Federal, assim como o senador Demóstenes, também experimentam do próprio veneno. Como disse Roberto Jefferson, os petistas fizeram da “ética” uma escada para subir ao degrau máximo do poder e depois a empurraram. Foram os Demóstenes de ontem.

O fato é que Brasília nunca precisou tanto de uma Semana Santa como nos dias de hoje. Que sirva para que todos possam refletir sobre os julgamentos precipitados que fizeram e sobre por que, agora, carregam suas próprias cruzes. Quem sabe assim, depois dela, seja possível realizar julgamentos isentos no Brasil, que não estejam contaminados pela emoção, pelo espírito concorrencial ou pela disputa política. Como cabe, de direito, a todo réu.
 


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