José Serra lança sua nau política rumo à Prefeitura de São Paulo. Mais uma vez. E, caso eleito, pode desistir. Mais uma vez. Diz que não vai fazer isso. Mais uma vez. E há quem acredite. Mais uma vez. Ao menos 26% dos entrevistados dizem votar nele. Serra sai com vantagem nas pesquisas. Mais uma vez. E pode encolher no transcorrer da campanha se adotar, mais uma vez, o habitual desprezo pelos adversários. A candidatura foi oficializada na semana passada após a prévia do partido PSDB que lhe deu uma vitória magra. O ex-presidenciável demorou a tomar a decisão – como tradicionalmente faz – na esperança de que seu nome fosse ungido como alternativa natural para tentar uma disputa com Dilma lá na frente. Mais uma vez. Notou que o terreno nessa área é estreito. O alto índice de rejeição nacional, a campanha de baixo calão que adotou em 2010 e o pouco entusiasmo dos próprios correligionários o levaram a declinar dessa via. Ao menos é o que diz, mais uma vez. Ainda está na memória do eleitor o abandono sem cerimônia do mandato de prefeito da capital paulista em 2006 para concorrer ao governo do Estado. Entre idas e vindas, reveses e conquistas, ele coleciona quatro pleitos ao governo da cidade e outros dois à Presidência da República. Na contabilidade crua, amarga, majoritariamente, derrotas.

Serra, mais uma vez, preferiu criar o clima de expectativa e indefinição até o último momento. Mesmo para os aliados. Tem colhido antipatias notórias com essa estratégia. O próprio resultado modesto na prévia – a primeira da história do PSDB – serve de evidência. No lugar de uma vitória acachapante, sem discussão, num evento que prometia ter um sentido meramente protocolar, ele arrancou o mínimo de apoio com pouco mais de 52% dos votos válidos. Serra sabe que terá problemas de adesão da base aliada e de militantes. A forma centralizadora e pouco afeita a opiniões na conduta de sua candidatura é vista como empáfia até por caciques do ninho tucano. Embora pregue a unidade e defenda “uma só voz” no PSDB, a única que ele parece ouvir é a dele mesmo. Na reta final da urna pode contar muito o alto grau de rejeição a seu nome, o maior entre os postulantes à vaga. Afinal, tem muita gente que cansou de ver Serra na cédula eletrônica mais uma vez.