img.jpg
TIME COMPLETO
Em sentido horário, Vanessa Vendramini, Franciely Santos,
Carina Vendramini, Priscila Amara, Monique Awoki e Silmara Lan

Belas, loiras, bem-vestidas e articuladas. Eram assim as integrantes de uma engenhosa quadrilha especializada em cometer sequestros relâmpago na capital paulista. Os alvos, não por acaso, eram mulheres igualmente bonitas, loiras e bem- arrumadas. Munidas dos cartões de crédito, com as senhas e os documentos de identidade das vítimas, a quadrilha comprava eletrônicos e sacava milhares de reais em poucas horas sem levantar suspeitas, para pouco depois libertar as sequestradas nos limites da zona leste da cidade. O golpe funcionava desde 2008. Mas acabou na semana passada, quando Carina Geremias Vendramini, 25 anos, uma das loiras, foi presa na casa onde vivia com o marido e a filha de 2 anos, em Curitiba (PR). Na quinta-feira 22, Monique Awoki Casiota, a única integrante morena, e o representante masculino do grupo, Wagner de Oliveira Gonçalves, também foram capturados. “Vínhamos investigando a gangue das loiras há algum tempo”, diz Jorge Carlos Carrasco, diretor-geral da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). “Essas prisões são as primeiras de muitas.”

Outras quatro loiras, com idade em torno de 25 anos, completavam o bando – e, até o fechamento desta edição, estavam foragidas –, que criou uma espécie de roteiro para garantir o sucesso da empreitada e dificultar a identificação de seus membros. O primeiro passo era sempre escolher vítimas loiras, assim os documentos da sequestrada casavam com o visual da sequestradora que usaria os cartões. O segundo era agir com pelo menos três pessoas na equipe, o que tornava possível usar uma loira para abordar a vítima e outra para comprar com os cartões. Um dos três integrantes era Gonçalves, que fazia as vezes de motorista. Quando a polícia exibia para a vítima as imagens das lojas onde o cartão foi usado, ela não conseguia lembrar se quem estava fazendo as compras era a mesma pessoa que havia feito a abordagem inicial.

“Era um passo a mais que eles davam para tentar nos despistar”, diz o delegado Alberto Pereira Matheus Júnior também do DHPP. Mas o esquema acabou falhando. “Mais vítimas do que eles imaginavam lembraram do rosto e de detalhes das loiras envolvidas na trama”, diz Matheus Júnior. Carina foi identificada dessa maneira.

img1.jpg
EM AÇÃO
Vídeo que registra a gangue das loiras comprando iPads com cartão roubado.
Abaixo, a prisão de Wagner de Oliveira Gonçalves e Monique Casiota

img2.jpg

Uma das vítimas, que reconheceu a sequestradora, foi capaz de lembrar que ela tinha uma pequena tatuagem no pescoço. Os ânimos se exaltaram na sala onde aconteceu o reconhecimento, a ponto de a mulher avançar sobre a golpista, que, durante o sequestro, fazia ameaças com a arma em punho, batia e puxava o cabelo de quem mostrava algum tipo de resistência. “O curioso é que em crimes desse tipo as mulheres costumam cumprir um papel mais secundário, mas nesse caso elas eram as protagonistas”, diz Carrasco, sobre uma das pecualiaridades do caso.

Outra curiosidade que veio à tona, com a prisão de Carina, é o fato de a criminosa ter construído uma vida paralela em Curitiba, como uma respeitável mãe de família. A polícia ainda apura o envolvimento do companheiro da sequestradora na trama, mas os indícios são de que ela de fato agia sozinha. Um levantamento feito por dez investigadores do DHPP, sob o comando dos delegados Carrasco e Matheus Júnior, mostra que Carina saía de Curitiba e tomava um avião para São Paulo com o objetivo único de cometer esses crimes. Ao marido, ela dizia que vinha visitar a família, mas, já no aeroporto paulista, se encontrava com seus comparsas e, no estacionamento, fazia a primeira vítima. “O golpe era de cerca de R$ 20 mil por vítima”, diz Matheus Júnior.

Em um dos sequestros, oito iPads foram comprados de uma só vez pelo bando. “Como é que alguém vende oito iPads sem checar duas, três vezes a documentação?”, questiona Carrasco. Talvez o charme das loiras tenha rendido alguns vendedores e gerentes de loja, afinal, já são pelo menos 50 boletins de ocorrência com relatos que remetem à forma de agir da quadrilha. “Eles começaram com assaltos a condomínios e migraram para o sequestro relâmpago”, diz o delegado. Com o tempo, apuraram a técnica e ganharam confiança suficiente para manter uma rotina de até três sequestros por semana. Se chamavam de “Bonnie” e “Clyde” durante os crimes, uma alusão ao casal de bandidos americanos imortalizados no cinema. Mal sabiam que a polícia estava no encalço de cada um deles.