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DESTRUIÇÃO
A polícia já fez duas perícias no carro de Thor e cogita fazer a terceira

"A Fogueira das Vaidades", maior best-seller do escritor e jornalista americano Tom Wolfe, contava a história de um yuppie de Wall Street que tem sua vida arruinada ao ser considerado culpado por um atropelamento que, no fim, descobre-se, tinha outro responsável. O livro, que virou filme com Tom Hanks no papel principal, era uma reflexão sobre uma sociedade perigosamente previsível, fanatizada pelo revanchismo social: aos ricos caberia apenas a classificação de arrogantes e insensíveis; aos pobres, o destino das vítimas; e à grande classe média, a toga dos juízes morais. A situação fictícia remete a um acidente ocorrido na vida real na semana passada. O estudante Thor Batista, 20 anos, filho do bilionário Eike Batista, atropelou e matou o ajudante de caminhoneiro Wanderson Pereira da Silva, 30 anos, que pedalava uma bicicleta na rodovia Washington Luís (BR-040), na noite do sábado 17. O abismo social entre Thor e Wanderson desencadeou uma onda furiosa de condenação sumária ao filho do empresário.

As circunstâncias do acidente estão sendo investigadas. Thor não deu sinais de querer fugir à responsabilidade. Ele prestou socorro à vítima e tem colaborado com a polícia. Segundo o delegado responsável, Mário Arruda, da 61ª DP, “pelo apurado até agora, tudo indica que o local do impacto foi no meio da pista”, e não no acostamento. Se a perícia também confirmar que ele não dirigia acima da velocidade máxima de 110 km/h, Thor será inocentado e, ao contrário do que ocorria na trama de Wolfe, não há um terceiro elemento a ser culpado. Mesmo assim, o que se viu na semana passada foi um tiroteio. Programas populares de tevê, blogueiros e participantes de redes sociais criticaram com avidez Eike e seu filho. Segundo essas opiniões, ser jovem e dirigir um carrão de R$ 890 mil é quase um crime.

Pai e filho revidaram – por vezes sem a polidez e o cuidado que especialistas em imagem recomendariam. Não esconderam, pelo Twitter, o impacto do drama e da emoção a que estão submetidos. No programa “Brasil Urgente”, da Rede Bandeirantes, o apresentador José Luiz Datena afirmou que “nada acontece com o Eike porque ele tem tanto dinheiro que é capaz de apagar o fogo do inferno”. Ele arrematou dizendo que “só pobre vai para a cadeia”. O empresário de US$ 30 bilhões revidou no Twitter: “Datena deveria no mínimo se informar primeiro! Vou começar a atacar também! Datena, jornalismo bom é o verdadeiro!”

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NA RODOVIA
O ajudante de caminhoneiro Wanderson Pereira da Silva estava de
bicicleta quando foi atropelado: a polícia apura se Thor teve culpa no acidente

Thor, que também é filho da ex-modelo Luma de Oliveira, deu sua versão pelo microblog e a repetiu em depoimento à polícia na quarta-feira 21. “Vinha na faixa esquerda, com muito cuidado, quando repentinamente um ciclista atravessou. Minha reação imediata foi aplicar força total nos freios, segurando o volante reto, mas infelizmente foi impossível evitar a colisão”, escreveu. No programa “Balanço Geral”, de Wagner Montes, na Rede Record, porém, a tia que criou Silva, Maria Vicentina, afirmou que “a culpa é de Thor” e que o sobrinho fora “atropelado no acostamento”, contrariando a versão apurada até agora pela polícia.

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Em entrevista à ISTOÉ, Eike disse que o filho está ciente de que tem de prestar esclarecimentos e é categórico ao afirmar que ele não cometeu imprudência no trânsito. “A perícia vai dar a última palavra. Aí vamos saber quem estava em que lugar, quem cometeu o erro. Não é hora de culpar ninguém”, ponderou. “Precisa ser criteriosa. E é bom que todos se rendam a esse resultado.” Já foram feitas duas perícias no carro, mas o delegado Arruda não as considerou conclusivas e cogita realizar uma terceira. Thor disse que prestaria auxílio à família de Wanderson. “Essa atitude abriu uma janela para o diálogo”, afirmou Cleber Carvalho Rumbelsperger, advogado deles. Não é o primeiro acidente em que Thor se envolve. Em 27 de maio de 2011, o carro dele e um ciclista de 86 anos se chocaram. “O senhor estava numa bicicleta e, ao tentar atravessar em frente a um ônibus parado, não viu o carro de Thor e acabou entrando na lateral esquerda do veículo”, diz Eike. Ele prestou socorro e pagou as despesas médicas.

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SEMELHANÇA
No filme “A Fogueira das Vaidades”, Tom Hanks faz o
yuppie condenado por um atropelamento que não cometeu

Os familiares do ajudante de caminhoneiro pretendem processar o Estado por ter permitido que Thor permanecesse dirigindo apesar de ter 51 pontos na carteira por causa de multas, várias por excesso de velocidade. Celso Vilardi, um dos advogados de Thor, dá duas explicações para o fato: ele não tinha sido notificado sobre essas infrações e elas podem ser justificadas, pois o jovem costuma trocar de carro frequentemente e seus veículos também são dirigidos por outras pessoas. “Pode ter havido algum problema na transferência para os novos donos”, justificou Vilardi, que ganhou o reforço do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos na defesa de Thor. Criticado pela contratação de Bastos, Eike lançou mão mais uma vez do Twitter: “Só contrato o melhor.” 

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