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O cerco de mais de 30 horas ao prédio de cinco andares da rua Sergent Vigne, número 17, trouxe cenas de terror à vizinhança de Côte Pavée, em Toulouse, França, na manhã da quinta-feira 22. Mais de 300 disparos foram feitos durante um tiroteio entre a polícia e um assassino confesso. Foi lá que, na segunda-feira 19, Mohammed Merah se abrigou após matar um rabino e três crianças na frente de uma escola judaica e se tornar o inimigo público número 1 da França. Merah também havia assassinado três militares poucos dias antes. Filho de pais argelinos e quarto de cinco irmãos, o jovem de 23 anos disse ter ligações com a rede terrorista Al Qaeda e viajara em segredo ao Afeganistão e ao Paquistão duas vezes. Mas suas incursões internacionais não passaram tão despercebidas assim. A Central de Inteligência da França declarou que há pelo menos dois anos monitorava as atividades de Merah por suspeitas de radicalismo islâmico. Apesar disso, as autoridades não foram capazes de impedir os ataques das duas últimas semanas.

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APÓS O CRIME
Policiais isolaram a escola judaica na segunda-feira 19

Merah era um monstro. “Não me arrependo de nada, apenas de não ter feito mais vítimas”, afirmou o assassino enquanto negociava sua rendição com a polícia. Embora tenha sido descrito como um homem “calmo” e “gentil”, o jovem agiu com frieza ártica ao gravar todos os ataques com uma câmera (ele disse que colocaria os vídeos na internet). Uma de suas vítimas, uma garota de 8 anos, foi agarrada pelos cabelos e morta com dois tiros na cabeça. Ainda na adolescência, o atirador trazia em seu currículo pequenos delitos. Segundo o jornal francês “Le Monde”, há dois anos Merah forçou um menino a assistir aos vídeos da Al Qaeda e ameaçou a irmã dele, que reagiu à situação. Nas cenas finais de uma vida tumultuada, Mohammed Merah protagonizou uma caçada da tropa de elite do país, a Raid, que, em menos de 72 horas após o atentado à escola, encurralou o terrorista. Acabou morto por uma ação coordenada, que culminou com um tiro em sua cabeça. Nesse momento, Merah havia pulado da janela de um banheiro, segurando ameaçadoramente uma arma. Ele disse que lutava pelos palestinos, contra a presença militar da França no Afeganistão e a proibição do uso da burca.

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COMOÇÃO
Pai cobre o rosto do filho na escola Ozar Hatorah,
onde três crianças foram assassinadas

Nos últimos anos, o presidente conservador Nicolas Sarkozy endureceu as regras de imigração, o acesso de estrangeiros a benefícios sociais e foi especialmente rigoroso com a comunidade muçulmana, que corresponde a quase 10% da população do país. Em 2009, ele declarou que o “véu muçulmano não é bem-vindo na França”. Além disso, promoveu debates sobre identidade nacional e baniu as orações das ruas. Atual candidato à reeleição, Sarkozy prometeu, no início do mês, que reduziria à metade a entrada de novos estrangeiros no país, em oposição ao candidato socialista François Hollande, mais tolerante na questão migratória. Após os acontecimentos da semana passada, porém, o presidente suavizou o discurso e disse que o momento exige união. “A fé muçulmana nada tem a ver com os atos insanos desse homem”, afirmou Sarkozy.

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CAÇADA
Oficiais da tropa de elite fecharam o cerco a Merah por mais de 30 horas