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DANOS EM SÉRIE
Plataforma da Chevron no Rio e o primeiro vazamento
ocorrido há cinco meses: erros se repetem

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Nos manuais jurídicos, a reincidência é um agravante para condenar alguém. No período de cinco meses, as operações da gigante americana Chevron no Campo do Frade, na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, desencadearam dois vazamentos de óleo na região. O último começou há dez dias e se estendeu até o início da semana passada. Para o Ministério Público Federal, o primeiro vazamento ocorreu por erro da petroleira, que teria perfurado o poço com pressão superior à tolerada pelo solo. O segundo, também de acordo com o Ministério Público, é consequência direta do primeiro – seria, portanto, a prova definitiva da incapacidade da empresa para resolver o problema. Na quarta-feira 21, a Chevron e 17 de seus funcionários (incluindo George Buck, presidente da companhia no Brasil) foram denunciados à Justiça por crime ambiental e danos ao patrimônio da União. O MPF foi mais longe ainda: pediu a prisão de Buck. A Chevron também é alvo de pedidos de indenização na Justiça, inclusive dos pescadores da região, num montante que pode chegar a R$ 20 bilhões. Além de danos à sua imagem, a empresa já enfrenta uma sangria financeira provocada pelos vazamentos. A suspensão das operações na Bacia de Campos, oficializada na sexta-feira 16, gera perdas diárias estimadas em US$ 3 milhões. O cálculo foi feito, a pedido de ISTOÉ, pelo professor e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, Maurício Canêdo.

A Chevron não aceita a tese que associa os dois vazamentos nem sequer admite culpa no primeiro incidente. Em nota, classificou a acusação do MPF de “ultrajante e sem mérito”. Os sucessivos vazamentos de óleo no Campo do Frade estão intrigando ambientalistas e técnicos brasileiros do setor de petróleo. O que mais preocupa é a falta de uma explicação clara para os acidentes. “A empresa perdeu o controle da situação”, diz David Zee, professor da Faculdade de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que atuou como perito da Polícia Federal na investigação. “O problema é bem sério. Nossa previsão é de que vão continuar acontecendo pequenos vazamentos.” Mestre do Laboratório de Engenharia e Exploração de Petróleo da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Adolfo Puime segue o mesmo raciocínio: “Ninguém para a produção por um motivo simples.” Na quarta-feira 21, a presidenta Dilma Rousseff mandou um claro recado à Chevron Brasil. “As empresas que aqui vierem se instalar, bem como as que já estão aqui, devem saber que protocolos de segurança existem para serem cumpridos.”

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CULPADO?
O Ministério Público pediu prisão de George Buck, presidente da Chevron no Brasil

Algumas hipóteses para o novo vazamento já estão sendo analisadas. O professor de estruturas oceânicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro Segen Estefen acredita que o segundo acidente é resultado de uma fratura na estrutura do reservatório da empresa. “Isso normalmente ocorre por pressão excessiva, superior ao que pode suportar aquela formação”, diz Estefen. Segundo ele, a interrupção dos vazamentos requer uma operação complexa de reparo, que, se mal executada, pode provocar danos ainda maiores. Especialistas consultados por ISTOÉ afirmam que o Brasil não sabe lidar com esse tipo de problema. “A gente vê nitidamente que o País não estava preparado para acidentes desse gênero”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “Falta uma política ambiental clara para acidentes com petróleo no mar.” Procurada por ISTOÉ, a Chevron Brasil respondeu que a questão financeira não está em primeiro plano e que a principal preocupação da empresa é em relação à segurança e ao meio ambiente.

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