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A madrugada desta quinta-feira (22) foi a primeira, desde a retomada do movimento anticapitalista "Occupy Wall Street", em Nova Iorque, em que não foi registrado nenhum confronto com a polícia. Passado o inverno no hemisfério norte, os integrantes do grupo voltaram a se articular desde o último sábado (17) para condenar a influência de grandes corporações e do mercado financeiro na política e na sociedade.

No primeiro dia de retomada do movimento, 6 meses após a primeira ocupação do Zuccotti Park, ocorrida em 17 de setembro, militantes foram presos por desobedecer determinação da polícia de que eles não deveriam acampar no parque. De acordo com manifestantes, foram 73 prisões – número que a polícia não confirmou.

Impedidos de continuar o protesto no sul da ilha de Manhattan, onde se concentram sedes dos principais bancos, grandes empresas e a Bolsa de Valores de Nova Iorque – na simbólica Wall Street -, eles marcharam por quase três horas pelas ruas do centro financeiro e decidiram caminhar até a Union Square, na região central da ilha, ponto de passagem de milhares de nova-iorquinos e turistas em visita à cidade. Lá, a polícia permitiu que ficassem, mas impediu a instalação de barracas.

A Union Square é um importante ponto de circulação de pessoas em Nova Iorque – 7 linhas de metrô podem ser acessadas através do parque. Como o próprio metrô, a praça está totalmente aberta ao público, 24 horas. A regra, no entanto, mudou desde a última terça-feira (20).

Policiais cercaram a Union Square durante a noite e pediam que os manifestantes saíssem do local, alegando que os cerca de 200 militantes estavam "bloqueando o trânsito de pedestres" e que a praça seria fechada para "limpeza" – que sempre ocorreu com a praça aberta. Os oficiais instalaram grades de ferro no entorno da Union Square e prenderam seis militantes que, segundo a polícia, "resistiram à prisão". Uma mulher foi jogada no chão por um policial e precisou ser retirada de ambulância.

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Os policiais também apreenderam livros que eram distribuídos gratuitamente a quem se interessasse. A polícia nova-iorquina disse que se tratavam de "propriedade sem dono" e, por isso, não podiam continuar na praça. "Hoje tivemos uma grande demonstração da força da polícia", comentava o jornalista independente Tim Pool, que fica o tempo todo com o celular em punho, transmitindo pela internet o que acontece na Union Square.

Na noite de quarta-feira (21), policiais voltaram a cercar a praça. A área central foi cercada por grades de ferro, mas os manifestantes usaram as calçadas para dar três voltas no entorno do parque. Os policiais acompanhavam, pediam que ninguém sentasse no chão ou deitasse, mas não reagiram. Por volta das 2h da manhã, finalmente, houve trégua. Os militantes do Occupy Wall Street deitaram na calçada e não foram retirados pelos policiais.

Em cinco dias que Terra Magazine esteve na ocupação, a reportagem pode acompanhar manifestações culturais, artistas mostrando seus trabalhos – desde pintores que retratam a desigualdade social a músicos que cantam por uma melhor distribuição de renda. Havia grupos de discussão sobre o capitalismo e uma livraria improvisada numa mesa, a "Occupy Wall Street Library", de onde qualquer pessoa podia retirar o livro, ler e devolver depois, de graça. Foram dessa livraria os títulos levados pela polícia.

A Union Square – ou "Praça da União" – é um marco da desobediência civil em Nova Iorque e tem um histórico de manifestações políticas e de trabalhadores. Em 1882, mais de 10 mil operários tomaram o local e forçaram o presidente a reconhecer o Dia do Trabalho como um feriado. Estátuas de George Washington, o primeiro presidente constitucional norte-americano e líder da independência, e de Mahatma Gandhi, pacifista indiano, estão expostas no parque.

Neste fim de inverno de 2012, em uma das esquinas da Union Square, um grupo de jovens também pintava estampas em panos que podiam ser retirados gratuitamente e anexados a mochilas ou costurados em blusas. Eles pintavam até camisetas de quem se empolgava para tirá-las no meio da praça. As imagens convocam para a "Primavera Americana". Os manifestantes do Occupy Wall Street se inspiram nos levantes árabes que tiveram início no fim de 2010 e começo de 2011 para mobilizar a sociedade na discussão sobre o capitalismo.

Integrantes do grupo estão convocando uma paralisação geral do país no 1º de Maio – que não é feriado nos Estados Unidos, onde o Dia do Trabalho é comemorado na primeira segunda-feira de setembro. Os manifestantes esperam que ninguém vá ao trabalho, às compras ou às escolas (https://maydaynyc.org/). "O 1º de Maio será um dia para que as corporações sintam financeiramente a nossa força. Precisamos parar de consumir por pelo menos um dia, porque a situação não pode continuar como está. Quanto mais nós contribuímos para os lucros, menos eles contribuem para nós", explicava a filha de palestinos Fatima Shadidi, que está com o grupo desde as primeiras ocupações, em setembro passado.

Mas, afinal, o que quer o Occupy Wall Street? Não há uma única demanda. Um dos slogans do movimento é "Nós somos os 99%", em referência aos que trabalham para o capitalismo mas não usufruem de seus lucros. "Não iremos mais tolerar a ganância e a corrupção do 1%", diz o site oficial dos manifestantes, que não têm organização centralizada. "O capitalismo simplesmente não funciona. Isso nunca foi uma democracia", defende a estudante Christina Gonzalez, neta de imigrantes mexicanos e participante do Occupy Wall Street desde o primeiro levante do movimento.

Nos próximos dias, estão programados atos por toda a cidade de Nova Iorque, mesmo em áreas mais distantes de Manhattan, como Bronx e Brooklyn. Os manifestantes querem debater o ato que esperam ser um marco na luta do movimento: o 1º de Maio que almeja parar os Estados Unidos.
 


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