Viajante compulsivo, o fotógrafo paulistano Otto Stupakoff, 70 anos, orgulha-se ao dizer que são poucos os lugares do mundo em que não colocou os pés. “Talvez a Bulgária”, diz ele. Nas últimas quatro décadas, Otto foi alternando a sua residência entre Nova York e Paris, onde desenvolveu uma conceituada carreira como fotógrafo de moda. É assim, com a autoridade de quem já viu muito, e muito fotografou, que ele avaliza o Rio de Janeiro como “a cidade mais erótica do mundo”.

É esse justamente o tema do livro RIOEROTICO, editado nos EUA pela HarperCollins e ReganBooks, que chega
agora ao Brasil com distribuição da Excitart. Em cerca de 300 fotografias, a natureza do Rio de Janeiro é o cenário da sensualidade de mulheres e homens. “O sexo é consumação de um ato, o erotismo é a emoção de expectativa desse ato”, diz Otto. As imagens eróticas que ele produziu para o seu livro se enquadram perfeitamente nas palavras que ele utiliza para definir o erotismo. Para Otto, assim como para todas as mulheres e todos os homens que de fato são erotizados, pode-se dizer que o sexo começa pelo olhar.

Para afastar qualquer clima fashion de sua obra, Otto preferiu trabalhar com atores em vez de modelos. Até porque lhe incomoda ser chamado apenas de fotógrafo
de moda, mesmo tendo deixado sua marca nas maiores revistas do gênero,
como as edições estrangeiras de Harper’s Bazaar, Elle, Marie Claire e as diversas Vogue. “Essa alcunha foi criada pelo mercado americano. O meu trabalho
sempre foi diversificado. Hoje, por exemplo, estou fotografando flores”, diz ele. E reforça que também repudia o rótulo de “ousado” ou “elitizado pornô”.

Em seu trabalho há mulher colada a peixe, há mulher se masturbando, há uma insinuação, talvez mais que uma insinuação, de sexo em grupo. Mas tudo é apenas o começo do sexo – é o olhar. “Erotismo é sentimento”, diz o fotógrafo. Acostumado a clicar celebridades como Grace Kelly e Sophia Loren (quando a retratou, ele teve de passar a noite em sua casa, na italiana Via Appia Antica), Otto buscou nelas a naturalidade – a mesma naturalidade que imprime às imagens de RIOEROTICO, saudado pela revista americana Esquire como o “melhor evento cultural dos EUA do mês de fevereiro de 2006”.

Para realizar esse ensaio fotográfico,
ele trabalhou apenas um mês, de junho
a julho de 2003: “Aqui e ali usei algumas
fotos que já tinha, no máximo cinco.” Entre essas fotos, há um belo flagrante do píer de sua casa em Joatinga, nos anos 60. Nele estão, deitadas ao sol, a sua ex-mulher Margareta (que foi Miss Universo), a esposa de um amigo e a babá sueca de seus filhos. “São três mulheres. O curioso é que, ao fundo, vêem-se também três ilhas, confirmando aquilo que o psicanalista Carl Jung chamava de sincronicidade”. Ele também se vale de Jung, criador do conceito do “inconsciente coletivo”, para tentar entender por que esse livro foi feito justamente nesse momento de sua vida: “É a eclosão daquilo que a psicanálise jungiana chama de puer aeternus, ou seja, o eterno menino que existe dentro de nós.” Foi nas viagens que fazia na pré-adolescência para o Rio de Janeiro que o paulistano Otto Stupakoff viu pela primeira vez corpos femininos “acima do tornozelo”. Daí essa homenagem à cidade, através dos corpos banhados por uma luz especial – e muito natural.