Uma visão muito pessoal de uma Bahia atemporal em contraste com a Bahia globalizada de hoje. Assim pode ser definida a exposição O universo mítico de Hector Julio Paride Bernabó – o baiano Carybé (Museu Afro Brasil, em São Paulo). Organizada por Emanoel Araújo, diretor do museu, essa exposição é a maior já feita até hoje sobre Carybé, trazendo ao público aproximadamente 500 peças, entre pinturas, gravuras, desenhos e esculturas. Além de obras criadas pelo artista (nascido em 1911 na Argentina e falecido em Salvador em 1997), a mostra reúne também uma série de objetos de arte que ele colecionou ao longo do tempo.

Carybé se fixou na Bahia em 1940 e registrou o seu entorno social e intelectual, incorporando-se ao universo da negritude que ele próprio retratava. A exemplo de Jorge Amado e Dorival Caymmi, transformou-se em um obá, figura de destaque social dos terreiros de candomblé. Assim como Vinícius de Moraes, exaltando a Bahia, se autodefiniu como o branco mais negro do Brasil, Carybé foi o argentino mais baiano do País.

Ao registrar fielmente o que via, em diminutas aquarelas ou em grandes murais, as imagens de Carybé migraram do terreno estético para o campo da antropologia. É essa a principal faceta do artista que está na megaexposição que o homenageia. Mas também há o Carybé colecionador, o amante da arte sacra, o ilustrador que deixou sua marca em edições de Macunaíma (Mario de Andrade) e de Cem anos de solidão (Gabriel García Márquez). Montou-se no museu uma instalação com a reprodução de uma “casinha”, nome dado em Salvador às barracas da Feira de Águas de Meninos, e há também a projeção de filmes relacionados ao artista: A grande feira (Roberto Pires), Barravento (Glauber Rocha), Capeta Carybé (Agnaldo Siri Azevedo), o recém-montado Nós por exemplo (Rex Schindler) e O cangaceiro (Lima Barreto), cujo diretor de arte foi o próprio Carybé.