No enervante trânsito do Rio de Janeiro, um contingente cada vez maior de cidadãos dá um show ecologicamente correto. São os usuários de bicicletas, que ultrapassam – em número e condicionamento físico – a clientela dos trens e do metrô. O Rio conta com 140 quilômetros de ciclovias, a maior rede do Brasil e a segunda da América Latina, só superada por Bogotá. Desde 1991, quando o então prefeito Marcello Alencar lançou o projeto Rio-Orla, a cidade do Rio investiu R$ 28 milhões em ciclovias. O maior desafio agora é reeducar a população para uma convivência harmoniosa entre veículos, pedestres e ciclistas.

Uma pesquisa da prefeitura detectou que, de 1994 a 2004, o número dos que usam a bicicleta como meio de transporte saltou de 69 mil para 220 mil. Na região metropolitana, chega a 650 mil viagens por dia, contra 400 mil dos trens e 440 mil do metrô. Só os empresários é que não acordaram para o fenômeno. Não há investimentos em bicicletários ou vestiários próximos às estações de metrô ou terminais de ônibus. Há projetos de construção de dois complexos no centro, até com academia de ginástica, mas nada sai do papel. O centro é ligado à zona sul por ciclovias emolduradas pela Baía de Guanabara, mas quem pedalaria 20 quilômetros sob o calor carioca para chegar ao trabalho sem tomar um banho?

“São perguntas para as empresas, que não constroem vestiários, e aos empresários, que poderiam fazer bicicletários. Nosso esforço é para alterar a mentalidade que manda investir tudo no automóvel, usado só por 15% da população, mas não se muda uma cultura da noite para o dia”, diz o coordenador do Grupo de Trabalho do Planejamento Cicloviário, Roberto Ainbinder. Para Carolina Souza, 27 anos, formada em turismo e aluna de educação ambiental, falta muito para o Rio ser o paraíso dos ciclistas. Ela faz tudo pedalando entre sua casa, no Largo do Machado, o estudo, no Jardim Botânico, e o trabalho, em Laranjeiras. Depois de um assalto, ela adotou uma regra que repassa a todos: não comprar bicicleta com aparência que desperte a ambição dos ladrões. Outro “inimigo” é o que ela chama de “família unida”: pais e filhos que, em dias de lazer, invadem as ciclovias, atrapalhando a passagem. Ela critica os bares e lojas que não possuem bicicletários e revela a mais grata de todas as surpresas que teve ao transformar a bicicleta em meio de transporte: a balança. Perdeu três quilos em dois meses.