Uma guinada de comportamento da presidenta marca a cena política nos últimos dias. Dilma Rousseff, que sempre se mostrou avessa ao jogo da politicagem partidária, decidiu tomar as rédeas das negociações e partiu para o confronto aberto contra aqueles que tentam testar sua força. Na semana passada, num movimento ousado e calculado, decidiu trocar, de uma só vez, os dois líderes do governo no Congresso, tanto na Câmara como no Senado. Deu recados claros às siglas aliadas e a correligionários que a procuraram. “Agora a articulação é minha”, avisou em ao menos uma conversa reservada com um senador da base. Para quem, desde o início do mandato, preferiu a gestão puramente administrativa, longe dos conchavos e negociatas do Parlamento, é uma mudança e tanto. E que ninguém se engane. A presidenta Dilma assumiu a nova missão orientada e com o apoio nos bastidores de seu mentor, o ex-presidente Lula, com quem tem falado quase diariamente – inclusive com visitas relâmpago base de comando do cacique. O ensaio de rebelião de alguns parlamentares contra as determinações e escolhas do Executivo pouco incomodou Dilma. Em meio ao fogo cruzado, ela foi pessoalmente ao plenário do Senado, por ocasião do Dia da Mulher, e aproveitou a oportunidade para em público impor sua liderança e dar algumas estocadas. Lembrou até mesmo ao vice-presidente, Michel Temer, que o governo é deles e não só de um partido, no caso o PT. Apesar do pouco traquejo com as marolas políticas, Dilma tem se saído bem. Na base do morde-assopra, chegou a fazer acenos típicos de quem quer angariar simpatias nessa seara. Prometeu espaço, verba e até cargos para todas as legendas – não apenas para aquelas que a apoiam como até mesmo para as que fazem oposição. A Dilma repaginada vai estar mais atenta a demandas legislativas. Sabe que tem de tomar cuidado e impor alguns limites, mas entende também que não pode abdicar completamente da barganha, sob risco de desestabilização. A prática do presidencialismo de coalizão que deitou raízes por essas paragens faz décadas é um anacronismo institucional que cobra um preço alto do País. Os apadrinhamentos espúrios, o fisiologismo desavergonhado e os abusos de toda ordem encontram brechas nesse ambiente. É preciso mudar o status de relações entre o Executivo e o Legislativo. Do contrário, toda a Nação é que fica refém.


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