Bateu a polêmica e não tinha como evitar. Com o governo gastando de saída R$ 7,4 bilhões a mais em ano eleitoral, com a troca de ministro da Fazenda – e, às vezes, de estilo de gestão –, com a virada de humores pró-liberação de verbas, surgiu a suspeita: o Brasil vai cumprir sua meta de superávit? A conta, que é decerto um bicho-papão, corresponde a tudo que o País é capaz de economizar a cada ano. Serve como indicador de saúde econômica na medida em que mostra a capacidade de poupança interna. Ancorados no superávit é que muitos investidores tomam a decisão de colocar ou não seu dinheiro nesse ou naquele mercado. Na bola de neve, mais investimentos podem abrir chances a mais poupança e, por tabela, a um grau mais elevado de superávit. Na direção contrária é uma encruzilhada e tanto. O dado é que, pela condição de condutor das contas públicas, cabe ao governo definir a tal meta de superávit. E nesse detalhe é que mora o perigo. Numa primeira declaração, de bate-pronto o ministro Guido Mantega chegou a insinuar alguma flexibilização na tal meta de superávit. Ela está fixada em 4,25% do PIB, num acordo estabelecido lá atrás com o gerentão dos capitais, o FMI. Mantega, dias atrás, falou que superávit é inimigo de programa social e que sua fixação num número cabalístico é questão ideológica. Levantou preocupações. Se o responsável pelo cofre fala contra metas de arrocho, a choldra logo entende que estão abertas as torneiras para a festa orçamentária. Não é bem assim. O próprio Mantega logo se corrigiu e assegurou ao Fundo Monetário, onde esteve de passagem, naquela que é a sua primeira viagem oficial como titular da Fazenda, que o superávit vai ser mantido sim, pelo menos nos tais 4,25%. Para tal compromisso, especialistas avaliam que o PIB 2006 terá de crescer 4,9%. É uma senhora meta, dado que no ano passado esse crescimento não foi além dos 2,3%. O que importa mesmo em todo esse jogo estatístico é saber que a dosagem errada, para cima ou para baixo, do superávit pode comprometer sensivelmente as contas nacionais. Economia é algo bom, mas depende como e onde. O mesmo vale para o gasto.