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META
Pela história de Jacob (acima), filme de ONG mostra crimes
de Kony: o objetivo é torná-lo conhecido para que ele seja preso

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Seis dias. Esse foi o tempo necessário para Joseph Kony se tornar um rosto conhecido em todo o mundo. Conhecido e odiado. A notoriedade desse guerrilheiro de Uganda se deve a um vídeo de quase meia hora que a ONG Invisible Children produziu sobre ele e colocou na internet. Em menos de uma semana, o filme foi acessado mais de 100 milhões de vezes, o que representou a maior marca já registrada na rede. No vídeo, Kony é acusado de usar crianças como escravas sexuais ou soldados de seu grupo, o Lord’s Resistence Army. O drama das crianças, que é narrado a partir da história de Jacob, jovem que conheceu de perto o terror patrocinado pelos paramilitares do Lord’s, acabou sensibilizando as redes sociais e colocando Kony no posto de inimigo público número 1. Era o que pretendia a Invisible Children, empenhada em aumentar a pressão internacional pela prisão do guerrilheiro. Na semana passada, enquanto Kony se tornava um vilão global, o Tribunal Penal Internacional realizava sua primeira condenação desde que foi criado há dez anos. Acusado de crimes idênticos aos de Kony, um chefe militar do Congo, Thomas Lubanga Dyilo, pode pegar até 30 anos de prisão (a duração da pena ainda não foi estipulada).

As possibilidades de compartilhamento de informação pela internet têm dado nova dimensão aos vilões da sociedade. “Antes, os casos de comoção pública chegavam às pessoas por meio da grande mídia. Hoje esse intermediário não é mais necessário”, avalia Luciana Ruffo, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Entre os vídeos mais assistidos nos últimos tempos, constam apenas humor e música (leia quadro à pág 79). Mas se proliferam os casos de pessoas que ganharam má fama por intermédio de redes sociais.

A enfermeira Camilla Corrêa dos Santos é uma delas. O vídeo que a flagra espancando um cachorro yorkshire em seu apartamento, em Formosa (GO), gerou indignação nas redes no fim do ano passado e serviu de estopim para que pessoas começassem a divulgar dados pessoais da enfermeira, como endereço e contatos telefônicos. Ameaçada de morte, ela precisou se esconder por um tempo. Muitas vezes, os eventos que se iniciam na internet tomam dimensões bem reais. “O poder dos movimentos nas redes sociais é mobilizar recursos latentes, que de outra forma não seriam utilizados para resolver as demandas”, disse à ISTOÉ o pesquisador americano Clay Shirky, autor do livro “A Cultura da Participação”.

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NA REDE
O golpista Santos, preso com a ajuda do Facebook.
A enfermeira Camilla: vilã por maltratar cachorro em vídeo

A história do fotógrafo Maycon Martins, de Viçosa (MG), é emblemática nesse sentido. No dia 6 de março, seus serviços foram contratados por Danilo Cruz, que o induziu a deixar todo o seu equipamento no carro do novo cliente por alguns minutos. O fotógrafo assistiu, em seguida, a quase R$ 80 mil (valor de suas câmeras e acessórios) desaparecerem pela rua em segundos. Só lhe restou fazer um boletim de ocorrência e narrar o evento em sua página no Facebook. O relato na rede gerou uma reação que ele mesmo não previa. “Amigos comentavam e compartilhavam o que escrevi, fotógrafos do País inteiro começaram a me adicionar”, conta Martins. Com a repercussão, ele conseguiu a foto do golpista, captada pelas câmeras de segurança de um estúdio fotográfico em Muriaé (MG), que também havia sido lesado em golpe semelhante. A foto foi replicada milhares de vezes pelas redes sociais, o que levou à prisão de Alex Souza dos Santos, verdadeiro nome de Danilo Cruz, que fez vítimas em sete Estados. Tudo isso apenas quatro dias depois da divulgação da história no Facebook.

Outros casos, porém, revelam o lado cruel das redes. “Muitos inocentes acabam execrados no mundo digital”, diz o especialista em mídias digitais Celso Fortes. Ele cita o estilista Tommy Hilfiger, que há alguns anos foi massacrado por ter supostamente declarado à ex-apresentadora de tevê Oprah Winfrey não gostar de negros. Hilfiger nunca tinha ido ao programa e precisou fazê-lo para falar que não havia dito a frase. Antes disso, sofreu boicotes à sua marca e teve lojas depredadas. Na avaliação de Fortes, o estilista fez a coisa certa. “A omissão pode só piorar as coisas. Quando algum mal-entendido acontece, o melhor é tentar se explicar”, diz ele. A boa notícia é que, na era das mídias sociais, nem sempre é preciso ir à Justiça exigir direito de resposta.

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