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CENSURA
Falar mal do torneio não pode: o Sada/Cruzeiro foi advertido
porque o seu levantador, Arjona, criticou a arbitragem

Neste mês, em menos de dez dias, a Superliga de vôlei registrou dois casos de racismo. Wallace, do Sada/Cruzeiro, foi chamado de “macaco” durante um jogo, enquanto as cubanas Daimi Ramirez e Yusleyni Alvarez, do Usiminas/Minas, de “negras de merda”. Os episódios racistas que mancham a atual temporada não são o único problema. Desde a década de 80, não há outro esporte no Brasil que colecione tantos títulos internacionais quanto o vôlei. Na outra ponta dessa história está a Superliga, repleta de atletas de elite, mas espremida em um calendário de cerca de quatro meses. “É um acinte um país do tamanho do Brasil ter um torneio com apenas 12 times e essa duração”, reclama Bebeto de Freitas, ex-treinador da seleção que trouxe a prata na Olimpíada de Los Angeles de 1984. “A confederação optou por trabalhar com a elite, disponibilizando oito meses para a seleção.”

Para adotar essa política, porém, ela teve de diminuir o número de equipes na Superliga (leia abaixo). A conta é simples: com pouco tempo de disputa e muitos times, os atletas chegavam a disputar uma partida a cada três dias, o que os prejudicava fisicamente e em termos de desempenho. “Tem de diminuir o tempo dos atletas na seleção. Qual empresa quer investir sendo que a gente fica oito meses na seleção e chega quebrado ao clube?”, questiona Gustavo Endres, campeão olímpico em 2004. Na Europa, esse problema é resolvido optando por um calendário inversamente proporcional ao brasileiro. Com um torneio de oito meses de duração, a liga italiana, por exemplo, possui três séries de acesso, além da divisão principal. Não prioriza um número restrito de atletas de seleção, mas uma gama maior que atua nos clubes.

A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) argumenta que dá espaço para os jogadores também com outra liga nacional composta por 80 equipes, um campeonato de seleções estaduais e a recém-criada Liga B, com oito equipes. “Nos tornamos exportadores de mão de obra, temos mil atletas no Exterior”, diz Renato D’Ávila, superintendente da CBV.O meio-de-rede Endres aponta a necessidade da criação de um sindicato dos atletas. Desde que o Sada/Cruzeiro foi advertido pela CBV por seu levantador Willian Arjona ter criticado a arbitragem da Superliga, em janeiro, os jogadores se movimentam contra o que chamam de censura. O regulamento da Superliga proíbe críticas contra os árbitros, o torneio ou a confederação. “Não poder abrir a boca para opinar? Isso é a ditadura no esporte”, diz Freitas. O vôlei do Brasil pode ser o melhor do mundo, mas o vôlei no Brasil ainda está longe desse patamar. 

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