O inesperado crescimento do PIB na casa de 5,4% em 2007 teve um dado ainda mais surpreendente: o recorde no consumo por parte dos brasileiros. Nada menos que R$ 1,6 trilhão foi gasto na compra da casa própria, do carro novo, da viagem de férias, dos bens sempre desejados e, até aqui, inalcançáveis. Em todos os setores há reflexos desse aumento de compras além da média histórica. É a boa nova! A roda da economia gira porque a demanda pede mais oferta. Tudo segue para a frente. O esperado ciclo virtuoso. Há apenas uma ressalva a destacar. Esse ritmo de consumo dos brasileiros, ao contrário do que se poderia imaginar, não é conseqüência direta do aumento de renda – embora também esta tenha crescido, ainda que em proporção menor. Ele se dá por meio do endividamento. O consumidor foi conquistado pelas facilidades das linhas de crédito. Hoje, as taxas estão mais atrativas e os prazos seguem a perder de vista. O poder de compra anda na cadência da estabilidade. Com o cenário previsível pela frente, deu para planejar. E muitos arriscaram. Toda atenção agora é necessária. A festa do consumo que empurra o PIB pode levar ali na frente a uma armadilha para os incautos. A crise americana prenuncia tempestades. Seus reflexos sobre o Brasil ainda são imprevisíveis. Qualquer abalo transformará os recém-convertidos devedores em inadimplentes irremediáveis. Um calote em cascata é tudo o que o País não pode enfrentar neste momento de retomada. Empresas estão apostando firme na expansão. Compram máquinas, importam insumos e ampliam linhas de produção. A geração de trabalho é outra ponta dessa equação da felicidade. Mas, se quebrada por algum elo mais vulnerável da cadeia, a conta volta à estaca zero. E onde estão esses pontos sensíveis? Exportadores, por exemplo, dependem hoje mais do que nunca de um ambiente propício para o aumento de vendas lá fora. São eles, ao lado de investidores estrangeiros (ávidos por oportunidades aqui), que estão azeitando a engrenagem com grande fluxo de dinheiro. Se a fonte secar, o PIB emagrece e não tem bolso de consumidor que pague a conta.