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O resultado do PIB acendeu um sinal amarelo no Palácio do Planalto. Represada por uma série de medidas lançadas pelo governo no início de 2011 para conter a inflação, a economia avançou apenas 2,72% no ano passado. Embora o resultado não possa ser considerado ruim, principalmente diante da base de crescimento de 7,5% em 2010, ele ficou abaixo das previsões do Banco Central e do Ministério da Fazenda. Agora, a presidenta Dilma quer recuperar o terreno perdido. Um dia após a divulgação do PIB pelo IBGE, o Comitê de Política Monetária pegou o mercado financeiro de surpresa e derrubou a Selic para 9,75%. O objetivo é reacender a economia. Além disso, o ministro Guido Mantega prepara mais uma série de medidas para incentivar novamente o consumo. Ele diz que criará novos incentivos fiscais para a indústria e também passou a apostar no aumento de investimentos públicos para acelerar o crescimento. “Ao longo do ano nós vamos tomando as medidas que forem necessárias para estimular o investimento e o setor industrial”, diz Mantega. “O setor industrial como um todo precisa de alguns estímulos e eles serão dados.”

O ânimo do empresariado melhorou com o anúncio do governo de que retomará os gastos com obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento. No ano passado, menos de 10% dos gastos foram realizados pela União. “Teremos o máximo de empenho para que o PAC II possa cumprir mais uma vez a função anticíclica, garantindo crescimento e gerando emprego”, afirmou a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Outro fator positivo é a promessa de novas medidas tributárias. A Fazenda vai prorrogar a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre eletrodomésticos da linha branca, prevista para acabar em 31 de março, e também pretende desonerar a folha de pagamento de outros setores, como moveleiro, plástico e têxtil. No programa Brasil Maior, a indústria de confecções e calçados teve a alíquota de INSS reduzida de 20% para 1,5%. A intenção da Fazenda é reduzi-la desta vez para 0,8% e ampliar o número de beneficiados para atender à vontade da presidenta Dilma. Ela não está satisfeita com todos os resultados do Brasil Maior e quer estímulos mais fortes aos setores que sofrem com o câmbio.

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PRODUÇÃO E CONSUMO
Fábrica de tecidos (à esq.) e venda de
itens da linha branca: menos impostos

A Fazenda já identificou uma pequena retomada da economia no início do ano e acredita numa aceleração a partir do segundo semestre de 2012. Numa conversa entre analistas, o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, afirmou que somente 20% da desaceleração da economia brasileira é resultado da crise europeia. “O restante foi desejado e perseguido pelo governo, por conta das pressões inflacionárias”, ressaltou Barros. No boletim diário do banco, o economista afirma que “o pior da desaceleração ficou para trás.” Essa percepção é reforçada pelo aumento da confiança empresarial e do consumidor, além dos sinais de aumento de renda e emprego – fatores que deram a Mantega um novo argumento: “Vamos olhar para a frente”, diz o ministro. Convencido de que o Brasil está na contracorrente do que ocorre no mundo, Mantega garante que a economia brasileira vai crescer amparada pelo aumento do crédito e pela redução dos juros, liderada pelos bancos públicos. Na quarta-feira 7, o Banco do Brasil reduziu pela quinta vez suas taxas e avisou que continuará revendo os juros “em consonância com os ajustes decididos pelo Copom.”

Além disso, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, estuda um meio de reduzir os custos das linhas de financiamento do Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI) e pediu à Fazenda um novo aporte de R$ 30 bilhões. “É possível reduzir os juros do BNDES”, afirma uma fonte da Fazenda. “Vamos tornar o PSI mais atrativo.” A Caixa Econômica também deve receber um aporte de R$ 4 bilhões do Tesouro Nacional para expandir o crédito e atender ao programa Minha Casa, Minha Vida. Apesar de modesto, o resultado do PIB do ano passado permitiu que a economia brasileira se tornasse a sexta maior do mundo, ultrapassando o Reino Unido, segundo o ranking do banco alemão WestLB. Tanto o estrategista-chefe do WestLB, Luciano Rostagno, quanto o FMI projetam que o Brasil alcançará a França em 2015, passando a ocupar a quinta posição. Um avanço dessa dimensão não deixa dúvidas: a crise está muito distante do cenário brasileiro.

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