ROBERTO JAYME/AG. ISTOÉ

REPAGINAÇÃO Rodrigo Maia busca inspiração nos conservadores britânicos

Em 1998, quando estava no poder com o PSDB, no governo Fernando Henrique Cardoso, o PFL elegeu 105 deputados. Antes das eleições de 2006, o País tinha quatro governadores pefelistas. Agora que mudou de nome e deixou de ser Partido da Frente Liberal para virar Democratas, a legenda tem apenas 58 deputados. E somente um governador, José Roberto Arruda, do Distrito Federal. Mesmo assim, o DEM inicia o ano rindo de orelha a orelha. Ao impingir ao governo a sua maior derrota política com a não aprovação da prorrogação da CPMF, o DEM tornou-se mais liberal do que era quando se chamava PFL. Reforçou a bandeira de um Estado mais enxuto e menos poderoso e agradou à livre iniciativa ao defender menos impostos.

A decisão de não negociar em hipótese alguma seus pontos de vista afugenta filiados, limita o discurso e a possibilidade de alianças. Mas o DEM acha que, ao final, ganhará com isso. “É um risco que tínhamos de correr”, diz o presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ). “Ou fixávamos uma imagem e uma bandeira próprias, num campo não ocupado do espectro político, ou acabávamos desaparecendo”, considera ele. Eis uma novidade na política brasileira: em meio a partidos sem qualquer personalidade ideológica, o DEM esboça um caminho oposto e aposta em crescer a partir da consolidação de posições ideológicas inspiradas nos principais partidos de centro-direita do mundo, como o Partido Conservador britânico e o Partido Popular da Espanha.

Logo depois da vitória sobre o governo na questão da CPMF, Maia e o deputado José Carlos Aleluia (BA) embarcaram para a Inglaterra, onde passaram uma semana em colóquios com o Partido Conservador britânico. Fizeram um verdadeiro estágio sobre as mudanças que o novo líder dos conservadores, David Cameron, está implantando na organização. E são essas mudanças que norteiam o que Maia pensa fazer no DEM. A própria árvore, símbolo que foi escolhido para ser o novo logotipo do ex-PFL, parece-se muito com o logotipo dos tories. Em ambos os partidos, há o projeto de tirar das esquerdas a bandeira ambientalista. “É um equívoco imaginar que a defesa do meio ambiente é algo identificado com partidos de esquerda. Os governos socialistas nunca tiveram preocupações ecológicas. A China é, ainda hoje, um dos países que mais agridem o ambiente”, diz Aleluia.

Como acontece com outros partidos conservadores da Europa e da América do Sul (como o Democrata Cristão do Chile), a idéia do DEM é garantir para si o espaço da centro-direita. “Não há no Brasil ninguém posicionado nesse espectro. Todo mundo quer ser social- democrata”, avalia Aleluia. Se vai dar certo, é coisa em que nem Maia aposta inteiramente. “Sabemos que nossa posição (do DEM) hoje é minoritária. Talvez continue sendo minoritária em 2010. Mas eu acho que, se nós continuarmos sendo apenas linha auxiliar de outros partidos, não vamos sair dessa posição nunca”, considera.

Em princípio, isso significaria o DEM lançar um candidato próprio à Presidência na sucessão de Lula. Mas o partido sabe que não tem quadros bem posicionados para isso. Há um plano B? Sempre há. “Às vezes, o momento de ser mais geléia e deixar agregar outros pontos de vista que não são os nossos é na eleição. Agora, é hora de se consolidar como partido”, admite Maia. Ou seja, o DEM corre o risco de passar os próximos anos se apresentando como novidade política e representante brasileiro da nova classe conservadora do mundo e, ao chegar a eleição de 2010, revelar que, no fundo, nunca deixou de ser o velho PFL.