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SUSPEITA
A não permissão da autópsia de Zweig (acima) e a recusa
de entregar o corpo ao rabino são indícios de assassinato

Um suicídio mal contado ou um homicídio forjado? Para o escritor Deonísio da Silva, as circunstâncias que envolveram a morte do casal de austríacos Stefan Zweig e Charlotte Altmann, em 1942, em Petrópolis, pendem para a segunda opção. Ele está lançando “Lotte & Zweig” (LeYa), romance que se baseia nas cartas deixadas por Charlotte, cuja tragédia ao lado do seu marido escritor foi até hoje atribuída a um autoenvenenamento. “O fato de não autorizarem a autópsia dos corpos e de eles não terem sido entregues aos rabinos para serem enterrados em um cemitério israelista é indício contrário”, diz Deonísio. Zweig era um judeu de origem austríaca que amava o Brasil. Biógrafo de sucesso, foi o autor da expressão “Brasil, país do futuro”, usada para dar nome ao livro que exaltava o lugar que o acolheu como morador. Não veio para Petrópolis em 1940 apenas para fugir do nazismo, mas também para proporcionar a Lotte, que tinha problemas respiratórios, um cotidiano saudável na região serrana fluminense. Dois anos depois, ambos foram encontrados mortos pela faxineira da casa. Estavam abraçados. Ventilou-se a hipótese de ingestão de veneno, mas a falta de perícia não definiu qual substância teria sido usada.

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Deonísio aposta na hipótese de uma execução típica de uma visita de nazistas. “Fazia menos de um mês que o Brasil havia entrado na guerra contra a Alemanha e havia muitos nazistas na América do Sul”, afirma o autor. Para ele, o fato de não existir documento que comprove essa versão não desvaloriza a sua teoria. À época, Zweig já era um escritor renomado e aclamado por leitores de todo o mundo pela biografia de Maria Antonieta, rainha da França. Não passava por dificuldades financeiras e teria morrido com altas reservas no banco. “Não havia motivos para ele se matar”, diz Deonísio, que preferiu contar essa história pela visão de Lotte, 30 anos mais jovem que o marido. A opção pelo romance lhe permitiu exercitar a imaginação sem abandonar o rigor da história.

“Documentos podem ser construídos com mais inventividade que a ficção e o romancista, por sua vez, pode se valer de elementos que não
são documentados”, argumenta Deonísio em defesa do caráter híbrido de sua obra.”

 

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