LEONARDO MORAIS/HOJE EM DIA/FOLHA IMAGEM

PREJUÍZO Pedras nos trilhos da Vale, em Resplendor, impediram embarque de 800 toneladas de minério

A onda de protestos e invasões promovida pelo MST, Via Campesina e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) contra o agronegócio em pelo menos 18 Estados escolheu como alvos preferenciais a mineradora Vale e a transnacional americana Monsanto. As ações guardaram a mesma característica: foram organizadas por lideranças não pertencentes às comunidades que vivem nos arredores das áreas ocupadas pelas empresas. Essa constatação reforça a tese de que os atos tiveram cunho eminentemente político, o que vai alterar a estratégia das empresas para evitar novas invasões e, simultaneamente, buscar a reparação dos prejuízos estimados em US$ 200 milhões. Se, em outras situações, a negociação com os movimentos sociais foi considerada o melhor caminho para alcançar o entendimento, agora as empresas dizem que não há alternativa senão recorrer à Justiça. “Vamos processar os líderes dos movimentos. Trata-se de um movimento político. Estão querendo usar a Vale somente para ganhar visibilidade”, acusou o diretor-executivo de assuntos corporativos e energia da mineradora, Tito Martins. A Vale, afirma ele, sempre investiu no relacionamento com os moradores de regiões exploradas pela mineradora. “A interlocução é freqüente com públicos que possam sofrer algum tipo de impacto, positivo ou negativo, com nossos projetos”, explicou.

ATRASO Pesquisas com milhos transgênicos são destruídas em Santa Cruz das Palmeiras (SP)

Em Estreito, onde cerca de 200 ativistas ocuparam a entrada de acesso ao canteiro de obras da usina hidrelétrica por 11 horas, já foram feitos 39 convênios socioambientais com a maioria dos municípios da área, de acordo com o presidente do Consórcio Estreito Energia, José Renato Ponte. O canal de diálogo com os moradores e associações de classe e de bairro permanece aberto. “Nosso relacionamento com a população local é o melhor possível”, garante Ponte. Por isso mesmo, as empresas não reconhecem como legítimas as manifestações do MST, da Via Campesina e do MAB. Alegam que não há nem pauta de reivindicação por parte dos movimentos. E entendem que, desta vez, o litígio judicial

será inevitável. “Esses movimentos não estão na nossa área de influência, não podem dizer que foram prejudicados. Discordamos desses atos de banditismo e não negociamos com bandidos”, ataca Tito Martins. A direção da Monsanto, que teve o acesso a sua subsidiária, a Agroeste, fechado por 700 mulheres em Xanxerê (SC), e sofreu uma invasão na sua unidade em Santa Cruz das Palmeiras (SP), faz coro com a Vale. Em nota, a Monsanto indicou que vai cobrar na Justiça a reparação dos prejuízos causados pela perda de dois anos de pesquisas com milho transgênico: “A Monsanto condena veementemente atos ilegais como este, que, inclusive, desrespeitam recentes decisões do Poder Judiciário.”

 

A versão dos movimentos sociais é diferente. Cirineu Rocha, um dos líderes do MAB, garante que estão em jogo três reivindicações: a abertura do diálogo com o consórcio do qual a Vale faz parte, a criação de um fórum de negociação e a aplicação de direitos já conquistados em outras barragens. “Na hidrelétrica de São Salvador, as famílias atingidas receberam 27 hectares de terras ou carta de crédito de R$ 70 mil. Aqui, em Estreito, estão oferecendo apenas 12 hectares ou carta de R$ 35 mil”, reclama Rocha. O certo é que, desde agosto, a Vale já foi vítima de sete invasões em suas propriedades. Só nesta semana foram três. No sábado 8, os manifestantes depredaram uma unidade da Ferro Gusa do Maranhão. Na segunda-feira 10, os protestos bloquearam a estrada de ferro que liga Vitória (ES) a Minas (EFVM). E, na terça, foi a vez da hidrelétrica de Estreito. Maior projeto de geração de energia em curso no País, Estreito terá capacidade para gerar 1.087 megawatts a partir de 2010. A barragem deve inundar uma área de 430 quilômetros quadrados, onde estão 12 municípios de Tocantins e do Maranhão. Com o conflito, o cronograma da obra vai atrasar, segundo os responsáveis pelo consórcio. Na ação contra a Vale em Minas, 800 ativistas, que querem discutir com a mineradora o reassentamento de famílias, ocuparam, por 12 horas, os trilhos de uma das principais ferrovias da empresa, no município de Resplendor. Resultado: cerca de 300 mil toneladas de minério deixaram de ser transportadas, afetando a programação de exportações no Porto de Tubarão.