WARNER BROS.ENTERTAINMENT INC./DIVULGAÇÃOQuando foi criado em 1938 pelos desenhistas e escritores de ficção científica Jerry Siegel e Joe Shuster, ambos americanos, o incrível personagem chamado Super-Homem conquistou imediatamente o público. E nem era para menos: o herói conseguia, por exemplo, voar na velocidade da luz, incendiar objetos lançando sobre eles apenas o seu olhar e dobrar cabos de aço com a tranqüilidade de quem monta um origami. Nenhum desses poderes, no entanto, foi tão cobiçado pela ciência como a sua visão de raio X – com ela, o Super-Homem conseguia enxergar através de roupas e além de paredes. Nada era impossível para esse personagem de ficção. Ficção? Não mais. Setenta anos após a sua criação, uma empresa da Grã-Bretanha desenvolveu e anunciou, na semana passada, numa exposição científica patrocinada pela Secretaria do Interior Britânica, o lançamento de uma câmera que vai muito além dos demais instrumentos de segurança atualmente espalhados pelo mundo. Assim como o Super-Homem, a T5000, da empresa ThruVision, consegue enxergar através de paredes e de vestimentas, “desnudando” traficantes e terroristas que estejam portando, sob a roupa, armas, bombas ou drogas. Dos quadrinhos e das telas para a vida real, a criação dessa espécie de Super-Homem desenvolvida pela ciência está sendo comemorada pela indústria de tecnologia de segurança do Reino Unido.

Ao contrário das câmeras instaladas hoje em locais públicos, que utilizam raios X, a novidade se baseia na análise de ondas terahertz (ou raios T), que são uma radiação eletromagnética com baixo nível de energia emitida pelas pessoas e objetos. As freqüências na faixa de 0,1 e 10 terahertz situam-se entre as faixas da microonda e do infravermelho. “Nossa tecnologia funciona com base no conceito de que todas as pessoas e objetos emitem níveis reduzidos de radiação eletromagnética”, diz Clive Beattie, presidente- executivo da ThruVision. A câmera dessa nova engenhoca possui uma microantena de ouro que capta a radiação terahertz emitida por um determinado objeto. Após ser analisada por um termômetro extremamente sensível, chamado nitreto de nióbio, essa radiação é visualizada na tela de um computador e um programa específico informa sobre o tipo de objeto que foi encontrado sob a roupa. Segundo a empresa, o T5000 é capaz de distinguir a onda emitida pelos mais diversos materiais. “É assim que sabemos a diferença entre explosivos e um bloco de argila. E conseguimos distinguir entre cocaína e um punhado de açúcar”, diz Beattie. Para se ter noção da sutileza dessa energia, até mesmo as cadeias de DNA vibram em nosso organismo na freqüência terahertz e isso significa, saindo do terreno da segurança e entrando no campo da medicina, que no futuro os especialistas poderão ajustar essa freqüência, realizando arranjos terapêuticos. “Células cancerosas, como o melanoma, também vibram nessa freqüência, o que permitirá a descoberta da doença em estágios iniciais”, diz Beattie

5 segundos é o tempo que a câmera T5000 leva para reconhecer uma arma ou um pacote de cocaína escondidos sob a roupa

“Se olharmos para alguém em terahertz, a pessoa irá aparecer brilhando como uma lâmpada e a intensidade do brilho dos objetos irá variar”
Clive Beattie, presidente da ThruVision

A alta potência da câmera detecta objetos a uma distância de até 25 metros e ela opera como detectora ainda que as pessoas estejam em movimento. Para quem ficou preocupado com a privacidade, a ThruVision explica que a T5000 “não revela detalhes físicos sobre o corpo observado, apenas coisas”. Essa revolucionária tecnologia terá aplicações militares e civis e será utilizada em aeroportos, shopping centers, eventos esportivos e em demais situações nas quais haja grande concentração de pessoas “Atos de terrorismo abalaram o mundo nos últimos anos e as precauções têm de ser reforçadas”, diz Beattie. “A capacidade de olharmos artefatos escondidos no corpo, nesse momento em que há tantos atentados suicidas, é essencial para reforçar qualquer sistema abrangente de segurança.”