TRIUNFO Em Roland Garros, ele faturou o único torneio que ainda lhe faltava

Horas depois de conquistar o torneio de Roland Garros, na França, no domingo 7, o tenista suíço Roger Federer cercou-se de compatriotas para um brinde de champanhe em um bar parisiense. E fez questão de carregar o troféu, conhecido como a Copa dos Mosqueteiros, para a festa.

Sorriu e contou histórias, sempre de olho no mais novo xodó de seus 59 títulos, que ficou em cima de uma mesa. Antes, como parte da comemoração, havia levado a taça para o pai, Robert, que, doente, teve de ficar em um quarto de hotel na capital francesa no dia em que o filho disputava a final. Tanto carinho pela conquista tem um motivo. Com a vitória no saibro francês, Federer levou para casa o troféu que faltava para calar os críticos que tinham dúvidas sobre se ele era ou não o maior tenista de todos os tempos. Foi seu 14º título de Grand Slam – feito igualado apenas pelo americano Pete Sampras (leia quadro) -, que o transformou no terceiro homem na história do tênis profissional, a partir de 1968, a ganhar as quatro maiores competições do circuito.

Federer é o tenista mais completo nas quadras por ser acima da média em todos os fundamentos. É perfeito nos nove saques como Sampras. Tem a paralela de esquerda mortal de Guga. A direita do chileno Fernando González. As deixadas marotas próximas à rede dos argentinos. E a devolução fulminante de Andre Agassi. "Fazer um ace sacando a 230 km/h é fácil", diz o extenista e comentarista Dácio Campos.

"Mas só os grandes conseguem fazê-lo no segundo serviço a 180 km/h." Além dessa capacidade, o suíço dificulta ainda mais a vida de seu oponente por estar sempre onde a bola vai chegar – enquanto os outros correm atrás dela. "Roger é todo nota 9,5. Tem uma caixa de ferramentas impressionante", afirma o extenista Fernando Meligeni.

Um gentleman desde o momento em que pisa na quadra até a hora de cumprimentar o adversário após o match point, sem a raquete na mão, Federer demonstra a mesma elegância com que golpeia a bolinha. "Em um torneio, minha esposa correu para pegar o elevador em um hotel, quando de dentro dele saiu um garoto de 19 anos", conta Paulo Cleto, que foi treinador da equipe brasileira na Copa Davis por 17 anos. "Ele segurou a porta, pediu para que ela entrasse, perguntou o andar para onde ela gostaria de ir e apertou o botão. Era o Roger." Anos mais tarde, Cleto contou o fato à mãe do tenista, que respondeu: "É, a gente se esforça."

O olhos de Federer estavam marejados após o triunfo em Roland Garros – algo nada comum para um suíço conhecido como o iceberg das quadras. A gravidez da esposa, Mirka Vavrinec,que espera há seis meses o primeiro filho do casal, dava um toque especial à emoção. Curiosamente, Bridgette Wilson, esposa de Pete Sampras, estava grávida quando o marido conquistou seu 14º torneio de Grand Slam, aos 31 anos. Com 27, Federer deve ir mais longe que o ex-rival, contrariando os que, há dois anos, já especulavam sobre sua possível decadência. "Tenho fome de vitória", disse Federer.

Este ano, o maior de todos os tempos tem golpeado de maneira formidável os que duvidam de sua capacidade de recuperação. Venceu o espanhol Rafael Nadal, contra quem havia duelado 20 vezes e havia saído vencedor em apenas seis, no saibro, superfície favorita do atual número 1 do ranking. Mais: imprimiu essa derrota ao rival na casa dele, no Master de Madri. E finalmente triunfou em Roland Garros, onde havia perdido para Guga em 2004, na última grande apresentação do tenista brasileiro, e para Nadal em três finais. Superado por Federer na final do torneio parisiense, o sueco Robin Soderling falou ao microfone, após a partida, ao lado de seu algoz, para o mundo todo ouvir: "Tomei uma aula de tênis. Você é o melhor da história." É bom que ninguém mais duvide disso.