NA SUÉCIA Mobiliário moderno e arrumadeira são atrativos

Antes reduto de jovens turistas com dinheiro curto e poucas exigências, os albergues estão mudando para acompanhar a sofisticação de seu público. "O jovem que viaja sozinho hoje tem mais dinheiro, é mais independente e quer mais privacidade do que o que viajava há 20 anos", diz Johan Kruger, porta-voz mundial da Hostelling International (HI), que supervisiona as atividades de 4,5 mil albergues em mais de 80 países, entre eles o Brasil. Diante desta rea lidade, boa parte dessas hospedarias no mundo está em reforma. A ideia é diminuir o número de leitos por quarto, que variava de seis a 12, com banheiro compartilhado, para no máximo quatro, com banheiro privado. "O usuário não quer que o albergue vire um hotel", explica Eliane Porto, diretora da divisão latino-americana da HI. "Ele quer um ambiente com privacidade e conforto. Pode até custar um pouco mais do que um albergue convencional, mas deve ser mais em conta do que um hotel", diz.

Nos últimos dois anos, o número de quartos duplos nos albergues europeus aumentou 35%. No Brasil, onde há 100 dessas hospedarias filiadas à HI, o aumento chega a 50%. Paulo Limonici, sócio e gestor do Praia do Forte Hostel, na Bahia, identificou a tendência logo que ela começou a surgir no exterior. Mochileiro desde a adolescência, ele conta que quando abriu as portas do Praia do Forte Hostel, em 1997, o estabelecimento tinha 11 quartos, com seis leitos cada um. Hoje são 23 quartos e só sete têm seis leitos – todos os outros têm duas ou três camas. "É um movimento natural, damos conforto sem os excessos de um hotel, como televisão e telefone", explica ele, que cobra R$ 70 a diária por um quarto triplo com direito a café da manhã, ar-condicionado e banheiro privativo. "Também temos uma cozinha e um jardim comunitários, onde os hóspedes interagem", diz.

Manter o espírito de integração nos albergues é prioridade para quem está em reforma. É esse o caso do Tucano House, em Florianópolis, que hoje tem 38 leitos em oito quartos.

PRAIA DO FORTE Estimular o convívio entre os hóspedes é o diferencial

Eles trabalham para erguer seis quartos duplos com banheiro até o final de agosto. "Não vamos mexer nas áreas comuns, que nos distinguem das pousadas por promover a troca entre hóspedes", explica Marília Roig Capela, dona da Tucano House. Se quartos e estruturas são alterados, a filosofia da interação por trás da ideia do albergue, como idealizada pelo alemão Richard Schirrmann em 1909, parece ter tudo para permanecer intocada. "O jovem mudou, mas a vontade de encontrar alguém para montar um roteiro turístico inusitado e fazer novas amizades para futuras viagens continua a mesma", diz Kruger, da Hostelling International.