A batalha mundial contra a hipertensão recebeu na última semana uma ótima notícia. Pesquisadores da empresa suíça Cytos Biotechnology anunciaram os resultados de uma vacina contra a pressão alta, um dos mais perigosos fatores de risco para doenças cardiovasculares, como infarto e acidentes vasculares cerebrais. É a primeira do gênero e, ao se levar em conta o desempenho demonstrado nas experiências feitas até agora, pode se transformar em uma forte aliada para interromper o crescimento da doença em todo o planeta. Essa, aliás, tornou-se uma das tarefas mais importantes das autoridades de saúde. Afinal, estima-se que exista cerca de 1 bilhão de hipertensos hoje no mundo – 30 milhões no Brasil. E, em 2025, o total deve saltar para 1,5 bilhão de indivíduos com pressão arterial acima dos limites desejados.

 

A vacina desenvolvida na Suíça tem como alvo a angiotensina II. Trata-se de uma proteína que provoca a diminuição do calibre dos vasos sangüíneos, o que eleva a pressão exercida pelo sangue sobre as paredes dos vasos. O medicamento induz à formação de anticorpos contra a substância e impede sua entrada nas células. Esse mecanismo de ação é bem parecido com o dos remédios convencionais, que também atuam dificultando a ação da angiotensina.

Porém, a vacina apresenta uma grande vantagem sobre essas drogas: ela pode ser ministrada apenas algumas vezes por ano, enquanto os medicamentos devem ser tomados diariamente. Por isso, a entrada desse imunizante na lista das armas contra a hipertensão poderia contribuir também para aumentar a adesão dos pacientes ao tratamento. "Atualmente, esse é um dos maiores problemas enfrentados no controle da enfermidade", afirmou à ISTOÉ Martin Bachmann, da empresa Cytos, responsável pelos estudos para criação da vacina. "Calcula-se que menos da metade dos hipertensos siga corretamente o passo a passo do tratamento", assegurou o pesquisador.

Os testes que analisaram os efeitos da vacina foram feitos em 72 pacientes hipertensos. Os cientistas verificaram o desempenho do medicamento em duas dosagens – 300 e 100 microgramas – e também usaram placebo (sem efeito). As doses foram ministradas em três momentos diferentes.

A primeira foi dada logo no início do estudo. A segunda um mês depois e a última, 12 semanas após o início do experimento. Ao todo, os pacientes foram monitorados por 14 semanas.

Os resultados mostraram que a dose mais alta da vacina foi capaz de baixar de forma significativa os índices de pressão arterial dos participantes. Mas somente durante o dia, especialmente pela manhã, quando normalmente ocorre um pico de elevação da pressão. À noite, não houve alteração nas taxas de pressão.

30 milhões de pessoas são hipertensas no Brasil

O efeito protetor durou por cerca de quatro meses. Não houve registro de reações colaterais graves. Sintomas moderados parecidos com os de uma gripe foram relatados por três pacientes medicados com a dose mais baixa e em sete daqueles que receberam a dosagem de 300 microgramas.

A notícia, relatada em um artigo publicado na revista científica The Lancet, repercutiu entre os especialistas. Em um comentário publicado na própria revista, os pesquisadores suecos Ola Samuelsson e Han Herlitz, por exemplo, afirmaram que "a possibilidade de utilização dessa nova bioterapia é intrigante e promissora, podendo se transformar em um recurso bastante útil contra a hipertensão". Segundo Martin Bachmann, da Cytos, novos testes deverão ser conduzidos. Ele estima que a vacina deverá estar disponível dentro de quatro anos.