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“Essa situação tem que acabar. O governo quer um fim nisso logo
para não atrapalhar o bom desempenho do Banco do Brasil e da Previ”

Guido Mantega, ministro da Fazenda

Na quarta-feira 29, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, depois de participar de uma reunião com a presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, na tarde do dia anterior, entrou em seu gabinete mais apressado do que o usual. Logo que chegou, disparou três telefonemas urgentes. Os primeiros a receber a ligação de Mantega foram o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, e o da Previ, Ricardo Flores, que nos últimos dias haviam sido levados ao centro de uma polêmica envolvendo uma disputa política nas duas instituições. O ministro foi claro. Disse a ambos que caberia a eles agir com bom-senso e pôr fim a uma pendenga que se tornava pública e ameaçava atrapalhar o bom desempenho tanto do BB quanto da Previ. Aos interlocutores, Mantega afirmou que não haveria outro caminho que não o da pacificação. A mesma orientação foi transmitida ao vice-presidente da área de governo do BB, Ricardo Oliveira. “Essa situação tem de acabar. A atuação dessas instituições não foi prejudicada até agora. E o governo quer um fim nisso logo”, afirmou o ministro. Mantega costuma falar pelo menos duas vezes por semana com os diretores do Banco do Brasil e da Previ, subordinados a ele. Mas o telefonema da quarta-feira 29 foi diferente. A conversa foi mais rápida que as de costume e nem um pouco técnica. A missão de Mantega era dar um basta à contenda política. E assim o fez, conseguindo dissipar as preocupações do Palácio do Planalto com um possível desgaste tanto do BB como da Previ, instituições estratégicas para a política econômica do governo.

Bendine e Flores chegaram aos cargos que ocupam em razão de competências técnicas. Mas, como ocorre em toda administração pública, a participação de agentes políticos acaba muitas vezes se sobrepondo às questões administrativas quando se trata da ocupação de postos estratégicos. Nesse sentido, as diferenças entre os agentes ligados a Bendine e a Flores não são recentes. Em abril de 2009, quando Antônio de Lima Netto deixou a presidência do BB por resistir à redução dos juros, os dois eram candidatos ao cargo e também Ricardo Oliveira. Com o apoio de Mantega, o presidente Lula optou por Bendine, e escolheu Flores para a presidência da Previ, o maior fundo da América Latina, hoje com patrimônio de R$ 153,8 bilhões. Logo os petistas ligados ao ex-presidente da legenda Ricardo Berzoini se aproximaram de Flores. Oliveira ganhou a vice-presidência de governo do BB, cuja principal atribuição é o lobby no Congresso, e reforçou sua ligação com o secretário da Presidência, Gilberto Carvalho.

O primeiro movimento que colocou em campos opostos os grupos que se aproximaram de Bendine e de Flores aconteceu durante a sucessão de Roger Agnelli no comando da Vale. Como presidente da Previ, Flores tem assento no Conselho de Administração da mineradora e Bendine contava que o colega de banco e Oliveira apoiassem seu nome para a vaga de Agnelli, o que não ocorreu. Depois disso, questões administrativas fizeram com que do fim do ano passado para cá fossem afastados 13 diretores do BB a fim de que fosse mantida uma política implantada desde que Bendine assumiu o comando do banco. Na ocasião, o BB havia sido superado pelo Itaú e deixara de ser o maior banco do País pela primeira vez em sua história. Bendine deu a volta por cima e repôs o banco no seu lugar hegemônico em plena crise financeira mundial. Em 2011, o BB registrou o maior lucro de sua história: R$ 12,1 bilhões. Nos bastidores, lideranças partidárias próximas de Flores creditaram os afastamentos a uma retaliação feita por gestores próximos a Bendine.

Flores também acertou à frente da Previ. Não teve dúvida em engajar o fundo de pensão nas obras do PAC e nos grandes projetos de infraestrutura do governo, contribuindo para a ação anticíclica da política econômica. “As duas instituições estão funcionando muito bem. Isso é que é importante para o governo. O BB tem um desempenho excelente, aumentando o crédito, reduzindo os juros, com rentabilidade elevada. A Previ também tem rendimentos excepcionais, participando dos grandes projetos”, ressalta Mantega. Exatamente porque o BB e a Previ vêm cumprindo seu papel, a presidenta Dilma ficou profundamente irritada com o noticiário de que haveria uma disputa política envolvendo as duas instituições. A revelação de que o ex-vice-presidente do BB havia feito movimentações atípicas em sua conta bancária foi a gota-d’água para que a presidenta escalasse Mantega a fim de pacificar a situação. Petistas e peemedebistas de diversos escalões viam nas intrigas de bastidores a oportunidade de ocuparem novos espaços, mas Mantega colocou água na fervura e mostrou ao Planalto que não houve nenhum vazamento de sigilo bancário. Também ficou claro que a disputa de bastidor não irá abalar a gestão de Bendine. A presidenta só tem feito elogios ao presidente do BB e sua condição no governo nunca foi tão segura. “Essa é uma crise de fofocas. E a questão é difícil de identificar porque ninguém assume a responsabilidade pelas fofocas que estão sendo colocadas”, explicou Mantega. Por recomendação do ministro, os principais envolvidos – Bendine, Flores e Oliveira – emudeceram. É prudente que permaneçam em silêncio. “Dilma não quer mais saber de intrigas envolvendo o Banco do Brasil e a Previ”, afirma uma fonte do Palácio do Planalto.

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