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O embaixador Ibrahim Al Zeben (à esq.) e ato de palestinos em frente ao Itamaraty

Um gesto humanitário do governo transformou-se em caso de polícia. E pode dar muita dor de cabeça ao Itamaraty. O Ministério da Justiça investiga se agentes externos, entre eles representantes do governo palestino, a Autoridade Nacional Palestina (ANP), financiam protestos de um grupo de refugiados que se encontra no Brasil desde 2007. Relatório da investigação em curso indica que um movimento de boicote ao programa brasileiro de reassentamento de refugiados tem apoio de ONGs, diplomatas e membros da comunidade palestina.

Esses refugiados acusam o governo e o Alto Comissariado das Nações Unidas (Acnur), que administra o programa, de não lhes prestar a devida assistência. Querem ser transferidos para a Europa ou retornar ao campo de refugiados de Ruweished, na fronteira da Jordânia com o Iraque, de onde saíram há dois anos. O porta-voz do Acnur no Brasil, Luiz Fernando Godinho, afirma que o organismo fez sua parte, mas "os refugiados recusaram sistematicamente a ajuda oferecida."

O imbróglio começou quando o governo aceitou receber 108 palestinos que viviam em condições precárias em Ruweished. Muçulmanos de origem sunita, eles fugiram do Iraque após a queda de Saddam Hussein, em 2003.

Aqui, foram levados para São Paulo e o Rio Grande do Sul. Passados oito meses, 25 membros do grupo abandonaram o assentamento e se instalaram em frente à sede do Acnur, em Brasília. O protesto derivou para atos de violência contra funcionários e a invasão da sede do organismo, que decidiu fechar as portas no dia 13 de abril.

Para o Ministério da Justiça, a ação dos refugiados só foi possível porque recebeu apoio institucional. "Veículos portando chapas diplomáticas foram vistos altas horas da noite visitando os refugiados", informa o relatório em poder do Ministério da Justiça. Procurado por ISTOÉ, o embaixador da Autoridade Nacional Palestina no Brasil, Ibrahim Al Zeben, admitiu ter visitado os acampados, mas negou o financiamento. "Só dei celulares e dinheiro para comprarem comida."

108 palestinos
de um campo na fronteira da Jordânia com o Iraque ganharam abrigo no Brasil, mas 25 querem deixar o País

No Itamaraty, sabe-se que a ANP, o governo provisório da Palestina, jamais concordou com a vinda dos refugiados para o Brasil. Preferia que ficassem no Oriente Médio, para participar da luta por um Estado Palestino soberano. Segundo a investigação, os refugiados "receberam telefonemas de fora, oferecendo financiamento." O relatório cita ainda o apoio oferecido aos palestinos por duas ONGs, por meio dos advogados Sandra Nascimento e Acilino Ribeiro, que também confirma o apoio da embaixada. "O embaixador ajuda, mas não pode aparecer", diz Acilino. Na sua opinião, os refugiados são vítimas de perseguição política. Na quarta-feira 10, os dois advogados apresentaram ao Ministério Público denúncia de suposto grampo ilegal contra o grupo de 25 palestinos. "Descobrimos uma escuta ambiental num dos apartamentos fornecidos pelo Acnur", diz Acilino. O Ministério da Justiça e o Acnur afirmaram à ISTOÉ que não têm nenhuma participação em atos de espionagem.