– Vamos matar o Brizola.  Entreouvida no diálogo de dois policiais militares do Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro, a frase causou impacto – e foi seguida de várias outras, reveladoras de um minucioso plano traçado dentro do Bope para eliminar o então governador Leonel Brizola (1922-2004). “Já temos os mapas dos deslocamentos diários dele”, argumentou o policial que tentava convencer o colega a participar do plano. Dizia que se tratava de uma operação coletiva, com a qual “a nata do Bope” estava de acordo. O motivo alegado para a conspiração era a suposta ordem dada pelo governador para que a polícia deixasse de subir morros atrás de traficantes. Uma reunião para esquematizar o ataque chegou a ser feita. A idéia só foi abortada por um golpe da sorte. O relato dessa história inédita está no livro Elite da tropa (Objetiva, 315 páginas, R$ 37,90), escrito a seis mãos pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares e os ex-oficiais do Bope André Batista e Rodrigo Pimentel. Inspirado-se em fatos reais, mas valendo-se de nomes e locais fictícios, os autores conduzem o leitor a um impressionante mergulho no cotidiano de violência e corrupção da Polícia Militar fluminense.

No caso do complô contra Brizola, porém, eles optaram por usar o verdadeiro nome da vítima. O diálogo que o livro reproduz foi presenciado por um dos autores, que ainda hoje não quer se identificar. A troca de frases é feita por dois outros policiais militares, também não identificados.
– Matar Brizola? Você está louco.
– Não sou eu, somos nós. Podemos estar loucos, mas não somos covardes (…). Ele nos impôs cumplicidade, nos obrigou a facilidades. Que policial sou eu? (…) Eu quero agir dentro da lei.
– Desde quando matar o governador é cumprir a lei?”, argumenta o oficial contrário ao plano.
– “Se o governador é a antilei, se impede o cumprimento da lei, se bloqueia a luta contra o crime…”, ataca o conspirador. Mais a frente, o policial que planeja o atentado adverte: “Não é brincadeira não. É sério”, afirma. “E você está envolvido, queira ou não queira. Até porque, meu caro, sendo uma missão de segurança máxima, quem hesitar dança (é morto)”.

Mais à frente, o livro relata a reunião dos policiais conspiradores em uma sala, debruçados em um mapa do bairro de Santa Tereza, onde Brizola teria “parentes”. Depois de várias discussões sobre o plano, a idéia acabou arquivada por um motivo prosaico. Um dos policiais argumentou que sua mãe, uma espécie de mascote da tropa, achou tudo aquilo uma maluquice.

Com esta e outras histórias de barbáries cometidas no submundo da corporação policial que, em tese, é responsável pela segurança da população do Rio, o livro chega às livrarias nesta semana.