Em Salvador, a empregada doméstica do deputado Jutahy Júnior, líder do PSDB na Câmara, foi questionada pelo patrão se ela sabia quem é Geraldo Alckmin. A resposta veio em forma de dúvida: “Um convidado para jantar?” No Rio, o candidato tucano ao governo do Estado, Eduardo Paes, perguntou ao seu motorista quem é o postulante do PSDB a presidente. “Já tem?”, ouviu de volta. Num outro nível político, o próprio coordenador da campanha de Alckmin, senador Sérgio Guerra, deixou escapar sua aflição sobre a situação atestada pelos diálogos e apontada nos levantamentos científicos, nos quais Alckmin surge como ilustre desconhecido para 60% do eleitorado. “Quando ele começa a subir?”, indagou Guerra ao sociólogo Antônio Lavareda, especialista em pesquisas eleitorais. “É preciso ter paciência. A coisa só vai deslanchar quando começar a campanha de rádio e televisão”, disse Lavareda ao senador, que rebateu de pronto: “Isso se até lá não morrermos todos do coração.”

Para baixar batimentos cardíacos e remodelar o candidato tucano com maquiagens ao gosto da maioria dos eleitores, nos últimos dias entraram no campo da campanha de Alckmin o próprio Lavareda, indicado pelos aliados do PFL, e o jornalista Luiz Gonzales, escolhido pelo candidato em pessoa. Com eles, a nave tucana está pronta para zarpar, certo? Infelizmente para eles, não. Feita a constatação de que Alckmin ainda é uma face desconhecida, os chefes do PSDB e do PFL não se entendem sobre qual rumo escolher. “Não bater em Lula é sandice”, protestou o senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL, numa discussão
interna sobre a linha de campanha a partir de agora. Para dar munição aos marqueteiros, a cúpula do PFL gostaria de contratar um grupo para, exclusivamente, investigar novas denúncias contra o presidente e o PT. Neste circuito, preparou-se uma peça, a ser distribuída pela internet, na qual Lula aparece na Oktoberfest de 2003, em Blumenau, aparentemente embriagado. Alckmin considera este o típico “caminho da baixaria”, que a todo o custo quer evitar. O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, ao contrário, acredita que, se a imagem do presidente não vier a ser desconstruída, a reeleição é praticamente certa.

Com a chegada do marqueteiro Gonzales, Alckmin ganha um aliado para uma campanha mais “light”. Considerado tão inteligente quanto turrão, Gonzales
não costuma admitir interferências políticas em seu trabalho. Na campanha presidencial de 2002, quando comandou os programas de televisão de José Serra,
o candidato pediu para ler, com a intenção de reescrever, os textos do primeiro dia
de gravações. “O senhor manda na sua campanha lá fora. Aqui dentro, sou eu”, demarcou Gonzalez. Este ano, o G da produtora GW vai trabalhar sem a parceria do também jornalista Woile Guimarães, o W. Simpático e afável, Woile sempre fez o papel de conciliador entre os políticos e seu sócio. Desta vez, com o racha entre
eles, não haverá anteparo.

Indicado pelo PFL para fazer as pesquisas da campanha, o sociólogo Lavareda está otimista – e exercendo a pleno o seu papel. Neste momento, ele coordena uma série de pesquisas qualitativas nacionais, para descobrir o que o eleitor quer ver em Alckmin. Assim como o candidato, ele só acredita numa virada a partir de agosto, quando estréia o horário eleitoral gratuito, mas aposta num crescimento de quase 10 pontos até o final de julho. “Até lá, vai ser como comparar um Gol com um Jaguar”, disse Lavareda a ISTOÉ. “O povo não conhece um Jaguar.” Em suas contas, acredita que a fotografia atual mostra Lula com 42% de intenções de voto na classe D, contra 17% para Alckmin. No degrau imediatamente acima, a classe C, o placar está em 35% a 28%, igualmente favorável a Lula. O quadro se inverte nas classes A e B, onde reside a minoria da população. Até agora, Lavareda e Gonzales ainda não conversaram pessoalmente, o que deve acontecer nesta quinta-feira, em São Paulo.

Enquanto seus marqueteiros se acertam, Alckmin trata de acelerar seus contatos políticos. Sob a organização do senador Heráclito Fortes (PFL-PI), participou de um jantar na noite da quarta-feira 26, em Brasília, com candidatos a governador pelo partido. Seu interesse imediato é fechar a aliança com o PFL e definir quem será seu vice. O senador José Jorge (PE) continua seu preferido, mas é o também senador Agripino Maia (RN) quem vai se insinuando com mais ousadia. Por fora, passou a correr o deputado Rodrigo Maia (RJ), filho do prefeito Cesar Maia. Ou seja, tudo está combinado e nada, ainda, resolvido.