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Pausa na atuação
Marco Ricca orienta a atriz Via Negromonte em cena de "Cabeça a Prêmio", seu primeiro filme, sobre o drama de um amor proibido no Centro-Oeste brasileiro

Atores populares estão dirigindo filmes. Nos EUA, George Clooney, por exemplo, mostrou ser também um ótimo cineasta. Tanto é assim que concorreu ao Oscar pela direção do drama "Boa Noite e Boa Sorte". Outra estrela que se deu bem atrás das câmeras foi Mel Gibson – tão bem que optou por não atuar mais. Também no Brasil a safra dos atores que assinam filmes vem crescendo em número e qualidade

Primeiro foi Selton Mello, que surpreendeu com "Feliz Natal". Na sequência vem Matheus Nachtergaele com "A Festa da Menina Morta", em cartaz na sexta-feira 12. Também estreante, Marco Ricca está finalizando "Cabeça a Prêmio", baseado num livro do escritor paulista Marçal Aquino.

Mello diz que decidiu fazer "Feliz Natal" porque sentiu necessidade de expressar coisas que não estava fazendo como ator. Sempre identificado pelos papéis cômicos, em sua estreia na direção ele escolheu o caminho contrário. Enveredou pelo drama pesado ao mostrar uma família em completa ruína afetiva, durante as festividades de fim de ano. Esse mesmo clima paira sobre o filme de Nachtergaele, passado numa cidade amazônica cuja população acredita numa seita religiosa que cultua uma criança desaparecida misteriosamente.

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SANTINHO
Daniel Oliveira vive um benzedor no filme de Matheus Nachtergaele

Essa coincidência marca uma das características do "cinema de ator": como não são cineastas de carreira e sobrevivem atuando, os atores-diretores podem arriscar mais e assinar obras ousadas, sem muita preocupação com o imediato retorno comercial. "A demora na captação do dinheiro acabou ajudando muito no trabalho concentrado que fizemos", diz Nachtergaele, que levou dez anos para realizar seu filme. Ele fez diversas viagens para a cidade de Barcelos, cenário da história, e, antes de começar a filmar, passou um mês ensaiando exaustivamente o elenco seis horas por dia. O protagonista é vivido por Daniel Oliveira, que guarda em sua casa o vestido da menina morta e é considerado santo pela população. Além de conseguir ótimas performances de seu elenco, Nachtergaele demonstrou um admirável domínio técnico. Ele diz que aprendeu tudo atuando em outros filmes: "Acaba-se sabendo de lentes e de enquadramentos."

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Se existe uma técnica que os diretoresatores adoram é o chamado plano-sequência, aquelas cenas sem cortes, de longa duração. Consegue-se, assim, manter a intensidade da atuação, como no teatro. Ricca abusou de passagens do gênero em "Cabeça a Prêmio". Seu filme mostra a perseguição de um casal, vivido por Alice Braga e o ator uruguaio Daniel Hendler, pelos capangas do pai da moça, um fazendeiro do Centro- Oeste brasileiro. Ricca já tinha intimidade com o cinema, já que foi produtor de "Crimes Delicados", de Beto Brant. Sua passagem para trás das câmeras deu-se com rapidez. Esse não é o caso da atriz Helena Ignez, estrela de clássicos de Rogério Sganzerla, de quem é viúva. Só agora, aos 50 anos de carreira, ela está lançando seu primeiro longametragem, "Canção de Baal", e finalizando o segundo, "Luz nas Trevas – A Revolta de Luz Vermelha", baseado em roteiro de Sganzerla. "Sou uma atriz que sempre participou intimamente do cinema. Em algum momento isso iria acontecer."