i120210.jpg  i120211.jpg  i120212.jpg

EX-ÍCONE Fundada por Wilson, a GM errou ao insistir na produção de carrões

A bancarrota do maior símbolo da indústria automotiva dos Estados Unidos expôs a enorme contradição que vive a economia americana. A cada movimento, o governo Barack Obama injeta dólares do Tesouro em setores econômicos estratégicos. No passo mais recente, Tio Sam se tornou dono da General Motors, depois de comprar US$ 250 bilhões em ações de bancos americanos.

Por uma série de fatores, acabou nas mãos do Estado a empresa do emblemático Cadillac e do glorioso Pontiac, que pôs Detroit no mapa do desenvolvimento e permitiu que em 1954 seu presidente Charles E. Wilson dissesse: "O que é bom para a General Motors é bom para o país." Sem registrar lucro há cinco anos, a matriz americana pediu concordata, avisou que vai fechar 11 fábricas, interromper a produção em outras três e demitir 21 mil pessoas.

Depois do anúncio, o governo investiu mais US$ 30,1 bilhões e assumiu 60% do capital da montadora. No final do ano passado, já havia liberado US$ 20 bilhões. "A ruína destas empresas teria um efeito devastador para inúmeros americanos", justificou o presidente Obama, em discurso na Casa Branca.

"Além de causar prejuízos enormes a nossa economia, não só na indústria automobilística." Obama pode ter razão, mas a falência da GM é uma crônica da morte anunciada. Nas últimas quatro décadas, a impressão que se tinha era de que a GM tinha brigado com o consumidor americano, ao insistir na cultura corporativa e nas estruturas burocráticas confrontantes com os desejos locais. Seus carrões beberrões não levavam em conta o aumento do preço da gasolina.

Ao ver sua fatia de mercado cair de 54% para 19% e perder a liderança para a japonesa Toyota, a GM americana culpou o poder do sindicato, as regras americanas, que seriam anticompetitivas, e até o governo japonês. Mas não se reformou – ao contrário do que buscou a GM do Brasil, que apostou em carros econômicos e flex para atender o mercado interno, e as demais subsidiárias na Europa, América do Sul e Ásia. Todas estão nas mãos do governo americano, mas nenhuma delas pediu concordata.

O presidente da GM do Brasil, Jaime Ardila, garante que a subsidiária brasileira é solvente. Tanto que promete que o plano de investimento de US$ 2,5 bilhões até 2012 será mantido e lembra que a montadora registrou 10% de crescimento nas vendas no ano passado. Neste ano, as vendas brasileiras continuam crescendo com a isenção do IPI. Mas há problemas. A GM mundial está vendendo para a canadense Magna o controle da Opel, responsável pela plataforma dos carros GM no Brasil, com exceção da picape. Essa operação cria um calo no desenvolvimento de produtos no Brasil, que depende de um acordo separado com a Magna que deve pre ver o pagamento de licença. Além disso, a filial brasileira precisará correr atrás de financiamento, porque não poderá mais contar com o apoio da matriz em Detroit.

"Mas ela já vinha se virando sozinha", contemporiza o vice-presidente da CSM Worldwide, Paulo Cardamone. "A concordata é uma medida bastante saudável. O desafio é explicar para o consumidor que ela não vai deixar de produzir", observa o consultor e sócio da Creating Value Consultoria, Corrado Capellano. Os problemas reais estão na GM dos EUA, que se não mudar sua cultura, mesmo com a intervenção do governo, não sairá do buraco.

O que será um problema para o Tesouro americano, que tem planos de se desfazer da GM assim que ela voltar a dar lucro. Ocorre que a mais nova meta da empresa é ambiental. Assim sendo, a GM permanecerá na carteira do governo, que já tem o Citibank, a AIG, o Bank of America, a American Express e o Bear Stearns, entre algumas outras dezenas de propriedades financeiras.

i120213.jpg