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A Urca, um bairro carioca cujas imagens rodam o mundo por ser o endereço do Pão de Açúcar, um dos principais pontos turísticos do Rio de Janeiro, está afundando. Patrimônio histórico com mais de cem edificações tombadas, o lugar é um aterramento sobre a Baía de Guanabara desde os anos 1920. Cercado pelo mar, agora ruas e calçadas sofrem processo de afundamento por conta da ação das marés. A prefeitura busca uma solução para o problema e inicia uma obra para tentar blindar as muretas da localidade. O desmanche do solo é mais visível no entorno do chamado Quadrado da Urca, que fica na entrada do bairro, onde barcos de passeio e pesca ficam ancorados. Lá, o meio-fio chegou a baixar 30 centímetros e uma rachadura afetou a camada de asfalto.

Ao longo do bairro vêm ocorrendo desnivelamentos, para espanto dos moradores. “Essas crateras nos assustam. Apesar de o problema não ter chegado a abalar os prédios, ficamos inquietos. Dá para notar que o terreno aqui é mais frágil”, afirma a presidente da Associação de Moradores da Urca, Celinéia Paradela Ferreira. Fendas nas muretas do bairro fizeram com que a água das marés altas penetrasse no terreno e, aos poucos, retirasse a areia do mar usada para formar o aterro. Nas primeiras tentativas de controlar o afundamento, a empresa municipal responsável pela contenção de encostas, a Geo-Rio, repôs os grãos. Mas o rebaixamento se mostrou persistente e a ação, repetitiva e ineficaz. Tentando solucionar definitivamente o problema, os geólogos recorreram à técnica do jet grauting – método que consiste na injeção de concreto através de um “jateamento” capaz de penetrar até sete metros no solo. As obras, que custarão R$ 2,9 milhões aos cofres municipais, devem formar uma nova barreira entre o mar e o terreno e evitar novos rebaixamentos. Antes de aprovar o projeto, a empresa fez estudos, com resultados positivos. “Não é necessária uma análise geológica do bairro inteiro, não há risco para as construções, mas vamos ter que manter um controle visual constante e ficar atentos a cada afundamento daqui para a frente”, afirmou o gerente de obras da Geo-Rio, Élcio Romão Ribeiro, que também é morador do local.

Apesar de ser mais grave nas encostas, há problemas também na parte interna do bairro. Na rua Otávio Correia, surgem crateras, atribuídas pela prefeitura a vazamentos na rede de abastecimento de água. “Nosso maior receio é que a estrutura das casas e prédios seja afetada. Um estudo geológico do bairro inteiro nos daria mais segurança”, cobra Celinéia. Apesar de preocupante, a situação da Urca é diferente da de Veneza, bem mais complexa. Na cidade italiana, o solo baixa como um todo, enquanto o mar se eleva. “Lá, são as fundações que estão cedendo”, diz Ribeiro, da Geo-Rio.

Apesar de só ter cerca de sete mil moradores, a relíquia fincada numa das bordas da Guanabara tem movimentação intensa devido ao fluxo turístico em direção ao bondinho do Pão de Açúcar. Pelas ruas do bairro, também circulam veículos militares com destino ao Forte de São João, do Exército. Instituições de ensino superior ajudam a gerar mais tráfego. Como só tem uma porta de entrada e saída, a Urca tem baixo índice de violência e mantém um estilo de vida bucólico, com casas típicas de cidades do interior. “A Urca é um patrimônio inestimável para a cidade e para o País. O bairro foi construído nos anos 1920, num momento de autoafirmação da cultura nacional. Por isso, tantas construções em estilo neocolonial. A experimentação da art déco também deixou sua marca nessa pequena Mônaco carioca”, defende o historiador Milton Teixeira.