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TRAGÉDIA
Cirleide Lames chora a morte da filha, Grazielly, atropelada
por um jet ski enquanto brincava na praia no sábado 18

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No dia 18 de fevereiro, a pequena Grazielly Almeida Lames, 3 anos, realizava o maior sonho de sua breve vida: conhecer o mar. Durante meses, sua mãe Cirleide Lames, 25, funcionária de uma padaria, havia planejado uma viagem em família para a praia de Guaratuba, em Bertioga (SP). Natural de Artur Nogueira, no interior do Estado, Grazielly viajou com a mãe e outros parentes para passar o Carnaval no litoral. Em seu primeiro dia na praia, a menina estava radiante, brincando e se divertindo ao lado da mãe. Enquanto ela construía um castelinho de areia, porém, sua alegria foi tragicamente interrompida. Um jet ski aparentemente desgovernado atingiu Grazielly no lado direito da cabeça, causando um intenso sangramento. A menina chegou a ser socorrida, mas não resistiu e faleceu. O acidente teria sido provocado por um adolescente de apenas 13 anos.

No dia seguinte, numa praia da Paraíba, Paulo Walker Filho, 22 anos, morreu após cair de um jet ski – ele não usava colete salva-vidas. Na segunda-feira 20, Júlio César Gomes, 19, também faleceu depois de tombar da moto aquática em uma barragem no Piauí. Outro acidente ocorreu na terça-feira 21. Dois jets skis se chocaram na represa de Guarapiranga, na capital paulista, e um jovem de 20 anos ficou ferido. Juntos, os quatro casos ocorridos no Carnaval chamaram a atenção do País para os perigos do uso desse tipo de embarcação, que pode se tornar um brinquedo assassino quando há irresponsabilidade por parte dos pilotos, falta de fiscalização da Marinha e prevalece a impunidade na hora de punir culpados.

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OUTRO CASO
Júlio César Gomes, 19 anos, morreu após cair de um
jet ski numa barragem no Piauí, também no Carnaval

Os jet skis estão presentes em grande parte das praias brasileiras. Segundo dados da Associação Brasileira de Jet Skis, em 2011 foram vendidas 2,2 mil unidades desse tipo de embarcação, que não sai por menos de R$ 40 mil. Quase todos vão para as mãos de particulares, que apreciam a velocidade e a adrenalina proporcionadas pelo aparelho. Ele, porém, não é para qualquer um. Apenas maiores de 18 anos com habilitação de arrais podem pilotá-lo. A prova para obter essa habilitação, contudo, não exige demonstração de habilidade prática. Somente a partir de julho, a Capitania dos Portos vai exigir que os futuros pilotos apresentem um certificado de que fizeram um curso prático de quatro horas. Além disso, é proibido por lei trafegar com um jet ski a menos de 200 metros da praia Para o presidente da Associação Brasileira de Jet Skis, Marcelo Teixeira, a mudança no processo para a obtenção da habilitação é bem-vinda. “Mas 99% dos acidentes envolvendo jet skis são cometidos por pilotos não habilitados”, ressalta. Na opinião de Teixeira, tragédias causadas por acidentes são o resultado da combinação de imprudência com pouca experiência na condução da embarcação. A falta de fiscalização também é apontada como uma das causas das ocorrências fatais. “Infelizmente, a Marinha não possui aparato suficiente para fiscalizar todo o litoral e quem tem dinheiro consegue facilmente alugar um jet ski em qualquer praia, mesmo sem apresentar habilitação”, diz Silvia Basile, presidente da ONG Férias Vivas, organização que presta consultoria sobre segurança para empreendimentos turísticos. Os perigos de usar um equipamento como esse sem o devido preparo são ressaltados por um piloto de testes ouvido por ISTOÉ. “Muitos jet skis podem atingir até 100 km/h e possuem motores com 300 cavalos de potência, equivalente a uma Ferrari.”

No caso do acidente que interrompeu a vida de Grazielly, uma testemunha ouvida por ISTOÉ afirma que viu o adolescente, filho do empresário Marciano Assis Cabral – dono de uma empreiteira e de postos de gasolina em Mogi das Cruzes (SP) – fazer manobras com o jet ski minutos antes do desastre, com um menino de 12 anos na garupa. A embarcação pertence ao político José Cardoso, empresário do ramo do lixo acusado de irregularidades, que é padrinho do garoto. A testemunha também garante que o jovem teria caído antes de a embarcação atingir Grazielly, o que reforça a tese do advogado de defesa, Maurimar Chiasso. Um jet ski navegar sozinho, contudo, é algo improvável, segundo especialistas. “Para ligar um jet ski é preciso colocar uma chave na ignição, dar a partida e manter o acelerador pressionado”, diz Teixeira. Para o delegado que investiga o caso, se ele estava em cima da embarcação ou não é irrelevante. “O que importa é que ele acionou o veículo. A autoria já está caracterizada”, afirma Maurício Barbosa, titular da delegacia de Bertioga. O caso está sendo investigado como homicídio culposo e o inquérito deverá ser concluído em 30 dias.

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