O Brasil entrou definitivamente na rota dos grandes estudos clínicos. Nos últimos dez anos, o País tornou-se um importante centro de testes de novos fármacos em seres humanos. Segundo a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre 2005 e 2007, foram registrados mais de 800 protocolos de experimentos do gênero, envolvendo 15 mil participantes ou sujeitos de pesquisa – nome correto dado aos que se dispõem a se submeter aos testes.

VIDA NOVA A estudante Simone tem artrite reumatóide. Após participar de estudo de uma nova droga, recuperou os movimentos que havia perdido

ESPERA,  Heron está aguardando a aprovação de um teste para um remédio que pode melhorar suas dores

Mas o que há de tão atraente no Brasil? Primeiro, a diversidade genética da população, o que possibilita a realização de testes para diversas doenças e também que os resultados sejam extrapolados para populações ocidentais. Além disso, há uma legislação de padrão internacional com foco na proteção dos participantes. “São normas fundamentadas em conceitos éticos”, explica Greyce Lousana, presidente da Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisas Clínicas. Nesse sentido, ficou confortável para as indústrias. “A legislação trouxe mais segurança para os laboratórios”, afirma Gabriel Tannus, presidente da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa.

Um dos tópicos determina que os estudos só podem ser iniciados após assinatura do termo de consentimento, um documento que garante o respeito aos direitos do voluntário. “As regras são claras. Nenhum projeto poderá ser feito sem ter passado, no mínimo, pelo Comitê de Ética da instituição”, esclarece Greyce. É esse comitê, formado por médicos e por pessoas da sociedade civil, que aprova e acompanha a realização do trabalho. As pesquisas também são submetidas e fiscalizadas pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e pela Anvisa.

APOSTA Antes de aceitar participar, Renato teve medo. Mas acreditou no potencial do remédio e agora controlou a doença

Para o País, as vantagens de sediar trabalhos clínicos são muitas. “Os médicos se sentem mais seguros para prescrever drogas que sabem como funcionaram nos testes”, afirma Carlos Gil, do Instituto Nacional do Câncer. Mas há outros motivos. “É importante para manter o País atualizado”, diz o cientista Ricardo Brentani, do Hospital A. C. Camargo. Mas e os participantes? O que ganham? Ao testar novas substâncias, expõem-se a riscos. É por isso que a lei determina que o indivíduo só pode participar se o risco se justificar pela importância do benefício esperado. E, a qualquer sinal de problema, a pesquisa deve ser suspensa.

Quando o trabalho é conduzido corretamente, há ganhos para o voluntário. O médico Roque Renato, 61 anos, por exemplo, controlou um tumor nos rins depois de aderir a um estudo. “No começo fiquei temeroso, mas aceitei porque era um remédio com boas perspectivas de sucesso”, conta. Outra que se beneficiou foi a estudante Simone Gonzalez, 37 anos. Portadora de artrite reumatóide, doença que limita os movimentos, ela melhorou após participar de um estudo em 2006. “Achei que seria um ótima oportunidade para melhorar a minha vida e a de outras pessoas”, conta. “Consegui. Recuperei a minha vida”, comemora.

Um dos empecilhos é a burocracia para a aprovação dos estudos. A legislação prevê um prazo médio de três meses. “Mas às vezes chega a demorar até oito meses”, diz Sandra Serrano, do Hospital A. C. Camargo. Não é isso o que espera o baiano Heron Lima, 24 anos. Ele tem anemia falciforme crônica, mal que provoca dores intensas nos ossos, e aguarda a liberação do teste de uma droga que pode melhorar sua qualidade de vida. “Tenho esperança de que isso aconteça e em breve”, planeja. Tomara. Pessoas como Roque, Simone e Heron, que se dispõem a contribuir com a ciência, merecem toda torcida e respeito.

ARTE: FERNANDO BRUM