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Há muito tempo, o PT abriu mão de sua autonomia e submeteu o seu histórico de decisões colegiadas, que suscitavam disputas calorosas entre suas tendências, à vontade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo assim, alguns petistas insistem em tentar convencer o público de que suas vontades podem prevalecer sobre o projeto eleitoral de Lula para 2010. Uma das cenas desta nova forma de o PT se rebelar ocorreu na noite da segunda-feira 5, em São Paulo, e a protagonista foi a ex-prefeita Marta Suplicy. Em reunião na sede do partido, ao lado de nomes da cúpula dirigente, Marta atirou contra o projeto de Lula de lançar a candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) ao governo paulista.

O motivo é que, se der certo, a estratégia Ciro atropelaria cinco candidatos do PT ao Palácio dos Bandeirantes. Pior. Com a coligação, os eleitores vão digitar nas urnas o 40, número do PSB, o que, segundo cálculos petistas, pode encolher a bancada do PT em até 30% – entre as candidaturas em perigo estariam, principalmente, as dos aliados de Marta.

Foi por isso que Marta tomou a frente da rebelião. Embora separados também politicamente, o ex-casal Suplicy atuou na mesma direção. Enquanto a exprefeita atacava o candidato de Lula afirmando que "há uma percepção de que a candidatura Ciro não tem nada a ver com o Estado", seu ex-marido surpreendia a todos, lançando seu nome para a disputa ao governo. Eduardo Suplicy tornou-se, assim, o quinto candidato do PT à sucessão do governador José Serra e ampliou a resistência a Ciro. "O PT é a favor de ter uma candidatura própria, isso é quase uma unanimidade", discursou Marta. Ledo engano.

Dentro do próprio PT paulista já existe a tendência dos conformados com a hegemonia da vontade de Lula. "A prioridade é a eleição nacional e em benefício desse projeto podemos estar sim com o PSB", afirma Emídio de Souza, prefeito de Osasco, outro pré-candidato. "A Marta foi irresponsável, ela tentou criar um fato que não existiu", diz Souza.

"Isso faz parte de uma estratégia conversada com o presidente Lula. Só estou executando", respondeu Ciro, quando soube do ataque de Marta. "Essa revolta acaba na hora que o Lula bater o pé", afirma um parlamentar petista. Os mais próximos a Lula usaram um argumento inquestionável para apagar o incêndio. "Temos que nos preparar para um cenário em que o Ciro ultrapasse a Dilma", afirmou o exministro e deputado Antônio Palocci, referindo-se à candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República.

As ultimas pesquisas mostraram Dilma em queda e Ciro em ascensão. Quem conhece Palocci ficou se perguntando se o alerta do ex-ministro já não é visto como um fato dentro do Palácio do Planalto. Dois dias depois do encontro do PT, a própria Dilma passou a defender apenas uma candidatura governista em 2010. "Vai ser um candidato que vai representar o governo", disse a ministra, depois de jantar com a cúpula do PDT, em Brasília. Parecia até o presidente falando.

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