07/01/2020 - 13:43
“1917”, o retrato inovador e profundamente pessoal de Sam Mendes da Primeira Guerra Mundial, entrou no radar do Oscar após surpreender no Globo de Ouro.
O filme é inspirado nas histórias do seu avô, que serviu no exército britânico.
A história acompanha dois soldados britânicos em uma missão perigosa através de uma terra de ninguém, na qual, diante de uma morte quase certa, eles devem entregar uma mensagem vital que ordena que um ataque calamitoso planejado nas linhas alemãs seja abortado.
O filme ganhou o Globo de Ouro de melhor drama no domingo, além do de melhor diretor para Mendes, vencendo os favoritos Martin Scorsese (“O Irlandês”) e Quentin Tarantino (“Era uma vez… em Hollywood”).
“Foi o melhor trabalho em equipe de todos os tempos”, disse George MacKay à AFP, momentos depois do anúncio do primeiro prêmio.
– Memória muscular –
Em um experimento radical de cinema, Mendes e o diretor de fotografia Roger Deakins deslizam a câmera das trincheiras para os campos de batalha cheios de crateras em uma cidade francesa devastada, no que parece ser quase uma filmagem contínua que dura duas horas.
“Eles nunca fizeram um filme em uma tomada contínua. Nenhum de nós fez isso”, disse Dean-Charles Chapman, outro ator principal do filme, falando à AFP em um evento em Beverly Hills organizado pelo BAFTA, a academia do cinema britânico.
Chapman e MacKay se lembraram de como ensaiaram suas cenas durante meses, repetindo movimentos e diálogos até que se tornassem “uma memória muscular”.
“Estávamos andando sobre estacas que colocamos no chão para marcar as paredes, o começo, o fim do set”, lembrou Chapman.
“Pouco a pouco, o cenário se tornou uma trincheira, depois ajustamos o tamanho do cenário em torno da cena. E fizemos isso com cada cena … levamos seis meses para fazer isso”.
– Heróis desconhecidos –
A abordagem ousada foi claramente recompensada, pois a vitória no Globo de Ouro, que abre a temporada de premiações de Hollywood, aumenta as chances de “1917” para o Oscar, em 9 de fevereiro.
A produção poderá disputar as categorias de melhor filme, melhor diretor e outras técnicas, embora seus protagonistas, relativamente desconhecidos, não apareçam nas previsões de premiação.
Mendes disse que escolheu deliberadamente atores que não eram grandes estrelas do cinema para que o público não simpatizasse de cara com eles e assim não conseguisse adivinhar se sobreviveriam ou não.
“Talvez sejam mortos, eu não sei. Se fosse Leonardo DiCaprio, talvez achasse que iria sobreviver”, declarou Mendes à AFP em Paris no mês passado.
Chapman é mais conhecido por interpretar o jovem rei Tommen Baratheon em “Game of Thrones”, enquanto MacKay teve um papel coadjuvante na comédia de 2016 “Capitão Fantástico”.
“1917” tem estrelas britânicas como Colin Firth, Benedict Cumberbatch e Andrew Scott, mas seus papéis são secundários.
– Filme pessoal –
A base da trama era uma história particular que o avô de Mendes, Alfred, contou a ele sobre seu serviço como mensageiro na Frente Ocidental.
Ele complementou a trama com outras histórias reais de guerra retiradas de cartas, diários e outras pesquisas.
“Eu acho que é mais pessoal porque vem diretamente de mim, embora sinta que nunca fiz um filme que não fosse pessoal em algum nível”, disse Mendes.
O filme acabou tendo também conexões pessoais com seus atores.
Chapman disse à AFP que durante sua pesquisa sobre o papel do soldado de primeira classe Blake descobriu um fragmento do diário de seu bisavô em um livro chamado “The Western Front Diaries”.
Os atores também visitaram a França e a Bélgica para conhecer os lugares da guerra, embora o filme tenha sido rodado na Grã-Bretanha.
“1917” tem estreia prevista no Brasil em 23 de janeiro, embora os prêmios conquistados possam antecipar seu lançamento.