O Hotel Reina Victoria, de Madri, teve a chamada morte inglória. Na tradição das touradas, só se alcança honra quando o sangue, do touro ou do homem, é derramado na areia depois de muita luta. E nada disso ocorreu no fechar das portas da célebre hospedaria espanhola. O Reina Victoria foi um dos maiores templos da tauromaquia. Era em suas suítes que os matadores se vestiam antes das touradas. Luis Dominguín, Antonio Ordoñes, Manolete, El Cordobés e outros cumpriram o ritual sagrado por 60 anos. Mas a pompa e a tradição foram despidas do velho palacete madrilenho da Plaza de Santa Ana. A nova roupagem para a reabertura da casa, no final do ano, apelará para outros ícones: os do rock’n’roll. O lugar será a sede do Hard Rock Cafe Hotel – Madrid.

Na suíte 406, com vista panorâmica, o fabuloso Dominguín (1926-96) se vestia para o tête-à-tête com um touro miúra. Lá também se despia para o mano a mano com atrizes famosas que namorou, como Lana Turner, Rita Hayworth, Lauren Bacall e Ava Gardner – esta última ele roubou de Frank Sinatra. No apartamento 303 morava Manuel “Manolete” Rodriguéz (1917-1947), o rival de Dominguín nas arenas. Este era mais circunspecto. Gostava de tomar café observando a plaza. Deste ponto ele conferia se o amigo Ernest Hemingway, outro freqüentador do hotel, estava em sua mesa predileta da Cerveceria Alemania.

“O Reina Victoria era um ímã que atraía todo o mundo das touradas”, diz Fernando Galino, o secretário-geral do Sindicato dos Toureiros de Espanha. A tradição continuou até o fechamento para reformas, neste ano. Os administradores dizem que o hotel vinha perdendo dinheiro. “Os velhos clientes estão morrendo. E, assim como as próprias touradas, já não há tanto entusiasmo por este tipo de entretenimento”, diz Samuel Ubarra, porta-voz da casa. De todo modo, os espanhóis continuam gastando US$ 1 bilhão por ano nesta arte e freqüentando mais de 17 mil “corridas de touros” entre março e outubro.