Passados 40 anos desde que o feminismo prometeu liberar as mulheres das penosas tarefas domésticas ainda se fala que esse trabalho só diz respeito às mulheres. Segundo dados recentes do IBGE, dos 35,4 milhões de mulheres que trabalham fora no País, 32,3 milhões também se ocupam dos afazeres em casa. Difícil encontrar mulher que goste dessa rotina. No caso dos homens, a procura exigiria lunetas de última geração. Nos Estados Unidos, casamentos começam a ser desfeitos por culpa disso, numa revolta doméstica orquestrada pelas mulheres.

Não é difícil que isso também aconteça no Brasil. Na “guerra da vassoura” as mulheres sobrecarregadas sempre acabam, mesmo contrariadas, a tomar posse desse singelo e indispensável instrumento de limpeza. No imaginário, homens e mulheres dividiriam tarefas. Mas a realidade se desenrolou de outra maneira. Os homens, mais acostumados a mimos e não raramente “exaustos”, chegam em casa loucos por uma cerveja e por um jantar. As mulheres também chegam cansadas, mas na maioria dos casos instintivamente vão para o fogão – mesmo que seja para esquentar alguma coisa (para ele).

O jornal The New York Times conta que acadêmicos da Universidade de Maryland e da Universidade de Virginia, ambas nos Estados Unidos, estão estudando a rebelião das mulheres, o que chamam de “fenômeno”, e constataram o que as brasileiras já sabem: elas têm muito mais tarefas domésticas do que eles. Seria injusto chamá-los de folgados quando a bagunça se espalha pela casa inteira e, ao mesmo tempo, são capazes de sentar e assistir à televisão, sem dar a mínima para isso? Eles podem até “dar uma mãozinha” depois, mas o custo disso é que vão lembrar todos os dias dessa ajuda – para possivelmente se livrar de outras.

Em São Paulo, orgulhosa de sua imagem cosmopolita, 88,4% das trabalhadoras também se dedicam aos serviços domésticos, que consomem, segundo o IBGE, 20 horas semanais. Pode-se dizer que se trata de uma “exploração doméstica”, só concebível para a personagem Amélia, a antiga música de Mario Lago e Ataulfo Alves que exaltava a mulher submissa como “a mulher de verdade”. Verdade mesmo é que a chama acesa pelas mulheres nos Estados Unidos pode avançar para o Brasil. Não existem mais Amélias nem a mais ferrenha radical feminista, a americana Betty Friedman. Mas as mulheres de muitos países – inclusive as brasileiras – estão descobrindo que está acontecendo alguma coisa injusta no lar-doce-lar – e já colocam seu pezinho na guerra da vassoura.


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