TRÊS MOMENTOS Em campanha de lingerie em 1999, ainda morena, no início da carreira, e em performance à la Vanusa na tevê Bandeirantes

“Como vai você? Eu preciso saber da sua vida. Peça a alguém pra me contar sobre o seu dia…” São 10h30 da quarta-feira 12 e Hebe Camargo cantarola pelo telefone a música gravada por Roberto Carlos. Aos 79 anos completados quatro dias antes – 8 de março, Dia Internacional da Mulher –, ela havia acabado de acordar. Àquela hora da manhã, encontrava-se extasiada e fazia rima feliz da vida com a quantidade de carinho e presentes que recebera no aniversário deste ano. “Se eu ficasse pobre, ganharia muito dinheiro vendendo flores. Minha casa parece uma floricultura”, disse a apresentadora do SBT, às gargalhadas.

O bom humor que a acompanha sofreu, porém, um leve baque recentemente. Tudo por causa de um dos presentes de aniversário mais queridos: um cachorro pequenino da raça galgo. Com dois meses de vida, o animal – que ainda não tem nome para não criar apego de vez – é, nas palavras de Hebe, um moleque quando acordado e um anjinho, dormindo. O resultado dessa contradição é que a apresentadora, dona de outros seis cachorros, está apaixonada por ele, mas pensa em devolvêlo. E, nessas horas, fica com o coração partido. “Ele está criando um baita problema. Os empregados não agüentam mais correr atrás dele”, conta ela, com voz de sofrimento. “Ontem chorei o dia todo, até na cadeira do dentista, que me perguntou no meio do tratamento: ‘Tá doendo o dente?’ E eu: ‘Não, é o meu cachorro…’.”

Aos 15 anos, Hebe assinou o primeiro contrato de
trabalho como cantora. Ela é loura há 51 anos

Hebe esteve conferindo a saúde bucal de olho em mais uma festa de aniversário – foram várias este ano. Desta vez, a comemoração é na cidade do Porto, em Portugal. Dois amigos portugueses fecharam o hotel Infante de Sagres para receber a apresentadora brasileira e cerca de 100 amigos – 50 vindos do Brasil. Estavam programados dois dias de festança: na sexta- feira 14 uma festa em uma boate e no sábado 15 um jantar animado por um DJ na vinícola dos anfitriões portugueses. Depois das comemorações em Portugal, Hebe desfilaria suas elogiadas pernas por Paris durante seis dias. “Todo mundo fala das minhas pernas. Pelo menos alguma coisa tá boa”, diverte-se ela. Com desembaraço, a apresentadora, cujo nome em grego significa deusa da juventude, faz graça de sua silhueta: “Fiz 79 anos. Tenho corpinho de 62, cabeça de 43 e alegria de 18!”

DANIEL PINHEIRO

Hebe, porém, se esqueceu de pôr na conta o número que a coloca no pedestal da tevê brasileira: são 64 anos de carreira artística e uma vida que se entrelaça com a história da televisão no Brasil, inaugurada em 1950. Cantora de rádio, famosa como Estrelinha do Samba, ela participou da caravana que deixou São Paulo rumo ao porto de Santos para buscar os primeiros equipamentos da TV Tupi. Mas, curiosamente, quase não emplaca no novo veículo. “Acho que não vai dar, não. Ela não tem imagem para televisão”, disse o então diretor Cassiano Gabus Mendes sobre a morena de seios fartos e sobrancelhas grossas. Evidentemente, ele estava enganado.

No SBT há 22 anos, depois de passar por Tupi, Record e Bandeirantes, Hebe é a grande dama da tevê brasileira, embora nunca tenha trabalhado na Globo, líder de audiência há décadas. Como apresentadora, conquistou prestígio para levar ao seu sofá grandes personalidades. Entrevistou desde o médico Euryclides Zerbini, pioneiro de transplantes de coração no Brasil, ao astronauta Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua. Filha de um violinista da época do cinema mudo que teve seis filhos, a apresentadora viveu uma infância humilde, mas construiu uma bem-sucedida carreira e hoje, rica, é dona de uma das maiores coleções de jóias do País.

Hebe tem como marcas registradas a espontaneidade que transparece nas gargalhadas fáceis, os selinhos distribuídos com generosidade entre amigos e amigas e um certo pendor para polêmicas. No ano passado, dias depois de a apresentadora Ana Maria Braga se casar com um homem 21 anos mais jovem, Hebe soltou no ar: “Tem uns menininhos me pedindo em casamento, mas eu não gosto de interesseiro! Esse negócio de garoto casar com véinha… Não vem que não tem.”

Dois casamentos, um filho, viúva desde 2000 após 25 anos de união com o empresário Lélio Ravagnani, Hebe diz que jamais viveria com um homem sob o mesmo teto novamente. O que não significa que ela está fechada para balanço. “Não queria um homem para dividir a minha cama. Queria um para não sair sozinha”, diz. Com sua habitual e impressionante franqueza, ela conta que gostaria de ter uma noite de sexo com o cantor Roberto Carlos. “Ele não sabe o que está perdendo”, sorri.