A internet, para os solteiros, é um santo remédio para driblar a solidão e criar relacionamentos. Já para os casados, há controvérsias. Estudo concluído este mês pelo Sleep Council – uma organização sem fins lucrativos sustentada por fabricantes de colchão britânicos – confirmou o que os viciados em computador já sabem: a tecnologia pode fazer mal ao casamento. Quase metade (40%) dos 1,4 mil entrevistados disse que raramente ou “às vezes” vai para a cama no mesmo momento em que o parceiro e 25% chegam a dormir em camas separadas. As razões passam longe de incompatibilidades de gênio ou de horário de trabalho. O vilão é a rede virtual: um em cada cinco britânicos estica a hora de se deitar para baixar músicas, jogar ou navegar em sites de bate-papo.

No Brasil, a disputa entre cama e internet também causa frustrações. A professora carioca Carla Alessandra, 35 anos, é uma das que se sentem derrotadas pelo computador. O marido, Vitor do Rosário, 37, chega a levar o laptop para a cama. Todos os dias ela é acordada às 5h30 pela filha Vitória, quatro anos. É quando Vitor vai dormir. Ele passa a noite na internet, onde se diverte em jogos, depois de trabalhar o dia inteiro como técnico em informática. “Quando ele tenta dormir cedo, lá pelas 2h, fica rolando na cama. Com ele no computador, pelo menos eu durmo”, consola-se Carla. E sobra tempo para o namoro? Vitor diz que sim. “Eu a acordo.” Carla tem outra versão: “É só nos fins de semana.” O computador não acabou com a união de 15 anos porque, segundo ela, “o amor é forte”.

O namoro dos empresários Daniel Santos e Renata Órphão, ambos com 25 anos, também resiste há sete anos. Ele mora com os pais na Barra da Tijuca e ela, em Copacabana. Ele é DJ por hobby e gasta noites baixando músicas da internet. Daniel admite que o hábito “atrapalha a relação” e aceitou fazer um acordo: nos fins de semana, quando estão juntos, é só meia hora por dia no teclado. A parte dela no acordo é se conformar em ir para a cama mais cedo e sozinha durante a semana.

A psicanalista Sônia Eva Tucherman diz que a chegada do BlackBerry – celular com acesso à rede – agravou a situação. “Sob pretexto de trabalho, a pessoa se desconecta até da família.” O aparente vício pode esconder a aversão ao contato pessoal, como no caso do sexo virtual. “A vida real passa a ser um entrave à fantasia”, explica. A solução é investigar o motivo da fuga do contato real – no caso dos casais, o desencontro de horários na cama. Ou entender que o excesso é sempre ruim porque “substitui ou rouba energia de outras coisas importantes, como a família e o amor”.