A classe média está menor. Entre 1980 e 2000, sete milhões de pessoas que ocupavam essa faixa da sociedade perderam seus empregos e não conseguiram recuperá-los. Em conseqüência, tiveram seu poder de compra reduzido, o padrão de vida rebaixado e, assim, saíram forçadamente da classe B para passar a tomar parte na classe C. Segundo o IBGE, em 1980 os assalariados que participavam do estrato social respondiam por 31,7% da População Economicamente Ativa (PEA). Vinte anos depois, porém, essa participação caiu para 27,1%. “A perspectiva é de que o número de pessoas expulsas da classe média aumente nos próximos anos”, diz o economista Márcio Pochman, professor do Instituto de Economia da USP e um dos autores do Atlas da nova estratificação social, estudo que mapeou as transformações na sociedade brasileira na década de 1990. “O ajuste do mercado de trabalho se deu principalmente nas profissões tipicamente de classe média, e esse ajuste continua.”

Com a perda de sete milhões de integrantes, a camada média da sociedade está reduzida, hoje, a uma faixa da qual fazem parte 57,8 milhões dos 180 milhões de brasileiros. A renda per capita desse segmento social, em valores de novembro de 2005, varia de 1,7 salário mínimo per capita até 19,4 mínimos. Em todos os seus escalões, a classe média diminui de tamanho. A “média baixa” passou de 44,5% em 1980, para 54,1% em 2000. A “média média” caiu de 32,2% para 23,1%. A média alta foi a que menos sofreu, variando de 23,2% para 22,8%. Porém, mesmo quem manteve o status social está sofrendo outros tipos de perdas. Recursos antes usados para a compra de bens ou recreação e cultura passaram, nos últimos tempos, de acordo com o estudo, a ser gastos no pagamento de itens básicos do dia-a-dia. As despesas com habitação, que em 1987 respondiam por 17,6% do consumo total da classe média, ocupavam em 2003 nada menos que 29,5% do orçamento familiar. As despesas com transportes saltaram, no mesmo período, de 8,7% para 16,9%. As compras de bens, enquanto isso, diminuíram drasticamente. No período 1987-2003, o item “aumento de ativo” caiu de 10,8% para 3,9%. Significa a redução de compras de bens como carros e imóveis.

A realidade de quem passou por essas transformações é dramática. A assistente administrativa Lilian Vittoreti chegou a ter empregada doméstica, casa na praia, freqüentava academia, viajava nas férias e seus filhos estavam matriculados em escolas particulares e em cursos de inglês. Tudo isso acabou depois que seu marido perdeu o cargo de gerente numa rede de lojas em que tinha participação no faturamento. No momento, ele está desempregado e Lilian vende planos de saúde. “Estou ensaiando uma volta por cima”, diz ela. “Mas tenho consciência de que será muito difícil recuperar tudo o que já tivemos.”